Entrevista

Dra. Daniela Marques (DCAM-SBP) fala sobre imunoterapia com leite humano e os benefícios para os recém-nascidos prematuros

Mais recentemente chamada de imunoterapia com leite humano, a colostroterapia é uma prática que visa a humanização do atendimento nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatal e busca potencializar a imunidade neonatal precoce, especialmente nos bebês prematuros. É uma imunoterapia segura, de baixo custo, e estudos mostram que traz uma maior aproximação entre o binômio mãe-filho e a continuidade da amamentação após a alta hospitalar.

Para falar um pouco sobre como funciona essa imunoterapia, os benefícios e o que os estudos prospectam para o futuro, o SBP AmamentAÇÃO convidou a especialista do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (DCAM/SBP), dra. Daniela Marques. Confira abaixo a entrevista completa.

SBP AmamentAÇÃO - O que é a colostroterapia? Em quais situações ela é recomendada?

Dra. Daniela Marques - A colostroterapia consiste na administração de pequenas gotas de colostro diretamente na mucosa oral de recém-nascidos prematuros, geralmente nas primeiras horas ou dias de vida. O intuito não é alimentar, mas sim potencializar a imunidade neonatal precoce. Mais recentemente, o termo preferido tem sido “imunoterapia com leite humano” pois os estudos têm sugerido que os benefícios se estendem além dos 7 dias, que é a fase de colostro.

É indicada, especialmente, para prematuros que demoram alguns dias para alcançar a dieta enteral plena, mas pode ser utilizada em recém-nascidos a termo que apresentem qualquer dificuldade para alimentação enteral nos primeiros dias de vida.

SBP AmamentAÇÃO - Como essa imunoterapia funciona na proteção dos bebês recém-nascidos prematuros?

Dra. Daniela Marques - Essa prática visa ativar o tecido linfoide associado às mucosas tanto da orofaringe (OFALT), quanto do intestino (GALT) para amplificar a resposta imune na defesa contra agentes patogênicos.

Além disso, o leite humano apresenta diversos componentes bioativos, como os oligossacarídeos e a IgA secretória, que formam uma barreira e impedem a adesão de microrganismos à mucosa. Outros componentes são absorvidos e ajudam na imunomodulação ao controlar mediadores inflamatórios e limitar danos teciduais.   

A imunoterapia pode ainda favorecer o desenvolvimento do intestino e da microbiota intestinal saudável, o que pode acelerar a tolerância alimentar e a transição para alimentação plena.

SBP AmamentAÇÃO - Há estudos que mostram o benefício dessa imunoterapia para evitar óbitos de bebês recém-nascidos prematuros?

Dra. Daniela Marques - Existem vários estudos sobre o efeito da imunoterapia, especialmente, na incidência de sepse e na mortalidade de recém-nascidos prematuros. Como são estudos mais recentes, os resultados iniciais não foram capazes de confirmar o efeito protetor. Entretanto, à medida que mais estudos vêm sendo realizados mais evidências têm surgido mostrando uma tendência a menor morbidade e mortalidade com essa prática.

De qualquer forma, já existem evidências que a imunoterapia com leite humano reduz o tempo para alcançar a dieta enteral plena, reduz o tempo de internação hospitalar e aumenta a taxa de aleitamento materno na alta hospitalar.

SBP AmamentAÇÃO - Há contraindicações ou riscos associados à colostroterapia? Nesse sentido, quais cuidados são necessários para garantir a segurança e a eficácia dessa prática?

Dra. Daniela Marques - A imunoterapia com leite humano tem se mostrado segura sem riscos adicionais ao recém-nascido. As contraindicações são semelhantes às do aleitamento materno como as mães com infecção pelos vírus HIV e HTLV. Também está contraindicada nas mães com infecção aguda pelo citomegalovírus (CMV).

SBP AmamentAÇÃO - A colostroterapia já faz parte de protocolos oficiais no Brasil ou em outros países? Ou é algo que varia de hospital para hospital?

Dra. Daniela Marques - No Brasil, a imunoterapia com leite humano vem sendo recomendada como uma boa prática para implementação nas unidades neonatais, pois ainda que os estudos sejam insuficientes para comprovar o efeito imunoprotetor, já comprovam os efeitos benéficos na redução do tempo para alcançar dieta enteral plena; no tempo de internação; e na taxa de aleitamento materno na alta hospitalar de recém-nascidos prematuros.

SBP AmamentAÇÃO - Há pesquisas em andamento que possam ampliar ou aperfeiçoar o uso da colostroterapia?

Dra. Daniela Marques - Existem várias pesquisas em andamento para comprovar os efeitos imuneprotetores da imunoterapia com leite humano. Além disso, os protocolos têm incluído diferentes tempos, intervalos e até doses de tratamento para uma melhor avaliação dessa prática. E estudos também sendo realizados para avaliar outros desfechos nos recém-nascidos prematuros, como por exemplo, o crescimento.

SBP AmamentAÇÃO - Como essa prática pode impactar o futuro da neonatologia e da humanização do cuidado em UTIs neonatais?

Dra. Daniela Marques - A imunoterapia com leite humano reforça o protagonismo da mãe e valoriza o vínculo maternal desde os primeiros instantes após o nascimento, mesmo quando o recém-nascido é muito prematuro ou depende de suporte clínico intensivo.  Ao envolver a família no cuidado diário, fomenta a humanização dos serviços neonatais, pois aproxima as práticas técnicas da experiência emocional dos pais e promove empatia e engajamento.


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