Publicado/atualizado: novembro/2025
Dra. Lisieux Eyer de Jesus
Grupo de Trabalho de Cirurgia Pediátrica
O tempo necessário para que as crianças deixem as fraldas varia bastante de uma para outra, mas a maioria já apresenta controle urinário por volta dos 4 anos de idade. Caso a criança ainda não tenha esse controle nessa faixa etária, é recomendável uma avaliação especializada — embora, em alguns casos, isso possa representar apenas uma variação individual do desenvolvimento.
Adquirir o hábito da limpeza periódica da área genital é fundamental: essa região não deve ser ignorada durante o banho diário, seja por medo de machucar ou por timidez. A higienização exige cuidado e delicadeza, utilizando sabão neutro, que deve ser completamente enxaguado.
Nos bebês, a troca frequente de fraldas é essencial para evitar que a umidade e o contato com fezes se prolonguem. A exposição prolongada à umidade causa irritação na pele e favorece a proliferação de germes, que podem atingir a bexiga ao “subirem” pela uretra, provocando infecções urinárias.
Nas crianças mais velhas, em fase de aprendizado social, a higiene deve ser supervisionada por um adulto. Após uma evacuação, a limpeza ideal é feita com água e sabão. Caso isso não seja possível, pode-se utilizar papel higiênico, com cuidado para remover completamente os resíduos e evitar traumas na pele. A limpeza deve ser feita da frente para trás, especialmente nas meninas, para evitar que resíduos fecais alcancem a região da uretra.
Nos bebês pequenos, os sintomas mais comuns são febre alta, (recusa alimentar, comportamento anormal — ficar “desanimado”, “caidinho”, irritado e alteração do aspecto da urina na fralda (presença de pus, sangue, urina malcheirosa).
Nas crianças maiores, febre e alteração no aspecto da urina ainda estão presentes, mas é comum que se queixem de dor abdominal e dor ou ardência quando urinam. Muitas urinam com mais frequência do que o normal, mas algumas apresentam retenção urinária (ficam um tempo longo demais sem urinar) ou interrompem a micção para evitar dor.
As crianças mais velhas e adolescentes podem ter todos esses sintomas, mas geralmente têm um quadro clínico semelhante ao dos adultos.
Sim, certamente. Por dois motivos principais. O primeiro é que uma infecção, especialmente quando associada à febre alta, pode causar problemas definitivos nos rins. O segundo é que a presença de uma infecção urinária em uma criança pode ser um sinal de problemas prévios que SE COMPLICARAM com a infecção.
A suspeita de infecção urinária (devido a sintomas ou a uma febre sem outra explicação) deve ser avaliada o mais rapidamente possível por um pediatra. Infecções urinárias são bastante comuns em crianças. Em alguns casos, são necessários exames para detectar os problemas causadores da infecção, especialmente se a criança apresentar infecção urinária mais de uma vez.
É importante observar se as crianças urinam sem esforço e com intervalos normais (que variam conforme a idade: bebês pequenos urinam a cada 1–2 horas; crianças mais velhas, de 4 a 6 vezes por dia), com jato urinário contínuo e forte durante todo o esvaziamento da bexiga.
Deve-se observar se a criança usa manobras e movimentos para evitar ou adiar o ato de urinar. Dor, ardência ou incômodo ao urinar sugerem uma possível infecção urinária, especialmente se houver febre ou alteração do aspecto da urina (como turvação, coloração escura, presença de sangue ou mau odor). Também é necessário observar se a criança mantém hábitos urinários adequados quando está na escola ou em ambientes fora de casa. É bem comum que as crianças evitem usar banheiros “estranhos” por questões de higiene ou falta de privacidade, o que pode induzir a hábitos persistentemente prejudiciais.
Muitas vezes, os adultos deixam de acompanhar os hábitos miccionais dos filhos após a conclusão do treinamento para o uso do banheiro, o que pode dificultar a identificação de alterações importantes.
No momento do diagnóstico, o fundamental é confirmar a presença da infecção por meio de exame de urina (urina tipo 1) e cultura de urina (exame que identifica a bactéria responsável pela infecção e os antibióticos mais eficazes para o tratamento) e, se necessário, exames de sangue.
Dependendo do caso, outros exames podem ser indicados. Frequentemente, o ultrassom dos rins e vias urinárias é o primeiro exame de imagem solicitado para observar se há alguma anormalidade anatômica ou funcional relacionada à infecção.
Esse exame, no entanto, pode não ser suficiente para o completo esclarecimento em todos os casos e o médico pode solicitar posteriormente exames para avaliar a presença de refluxo vesicoureteral (geralmente por meio de Uretrocistografia Miccional), verificar se os rins foram lesados pela infecção (na maioria das vezes por cintilografias renais) e/ou investigar problemas funcionais.
Exames mais sofisticados podem ser necessários em algumas crianças.
O uso de fraldas por si só não representa um problema. Mas há dois aspectos a considerar. O primeiro é que a necessidade de fraldas por um tempo muito prolongado (além dos 4 anos de idade) pode sinalizar problemas. Em outras palavras, é preciso verificar se o uso prolongado de fraldas não é um sinal de problemas clínicos. O segundo é que o uso de fraldas por um tempo muito prolongado pode acarretar problemas sociais para a criança, que também são importantes.
Existem várias causas para a dificuldade em retrair a pele que recobre o pênis (prepúcio) e expor completamente a glande (a “cabeça”) e acabamos chamando – de forma equivocada – todas elas de fimose.
As crianças nascem com a pele do pênis ainda imatura, “colada” à glande. Esse quadro se resolve espontaneamente com o amadurecimento, em quase 90% dos meninos até os 4 anos de idade, por meio de um descolamento gradual.
Não é necessário forçar ou “arrebentar” a fimose, pois isso pode causar problemas, além de ser muito doloroso: a natureza e o tempo resolvem.
Em uma pequena proporção dos meninos, há de fato uma anormalidade, com um anel de estreitamento na “ponta” da pele – essa é a verdadeira definição de fimose – que pode ser congênita (de nascença), adquirida por traumatismos e inflamações locais (inclusive causados por tentativas de forçar a “abertura” da pele) ou decorrentes de doenças de pele. Nesses casos, o tratamento é necessário.
Sim, sempre que o problema não se resolver até os 6 meses de idade. É importante que a cirurgia seja realizada até os 2 anos, para evitar que o testículo doente se torne infértil ou mesmo se atrofie. Um ponto importante é que testículos que nasceram dentro da bolsa escrotal podem se deslocar para uma posição anormal durante o crescimento da criança.
Por isso, é essencial “vigiar” se os testículos estão em posição adequada durante toda a infância, não apenas na fase de bebê, em todas as consultas pediátricas.
A urina é “fabricada” nos rins e conduzida para a bexiga por meio de dois “tubos”, os ureteres. A natureza construiu uma barreira para impedir o retorno da urina que chegou à bexiga para os rins, que é uma “válvula” muscular.
Em algumas crianças, essa válvula não funciona adequadamente, seja por alterações da anatomia local ou por pressão elevada dentro da bexiga. Nesses casos, a urina pode refluir da bexiga para os rins, causando infecções - se houver bactérias na bexiga - ou dilatação dos sistemas de eliminação urinária, caso a pressão esteja elevada.
A simples presença de refluxo pode não representar um problema e tende a se resolver espontaneamente com o crescimento da criança, o que ocorre na maioria dos casos.
No entanto, se o refluxo estiver associado a infecções urinárias, alterações renais ou for secundário ao aumento de pressão na bexiga, pode evoluir para alterações nos rins, com risco de comprometer a função renal futura da criança e exigir tratamento.