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Questões sobre Saúde Mental na Infância

Publicado/atualizado: novembro/2025

Grupo de Trabalho de Saúde Mental

Questões sobre Saúde Mental na Infância

Dra. Gabriela Crenzel

Quais são os sinais de alerta de que seu filho(a) pode estar sendo vítima de bullying?

Alguns sinais merecem atenção especial, pois podem indicar que a criança está sofrendo bullying. Entre eles: isolamento, mudanças de comportamento, regressões (como voltar a fazer algo típico de fases anteriores), tristeza frequente, irritabilidade ou ansiedade.

No entanto, os sinais nem sempre são apenas emocionais. Muitas crianças vítimas de bullying apresentam sintomas físicos, como dores de cabeça, dores abdominais e enjoos, pode se mostrar mais retraída, cansada, sem energia ou triste sem motivo aparente. Muitas vezes, esses sintomas pioram porque ela passa a dormir mal, o que agrava o quadro geral.

Outro alerta comum — e frequentemente o primeiro percebido pelos pais — é a queda no rendimento escolar. Também é preciso considerar a possibilidade de que o bullying esteja acontecendo fora da escola, nas interações virtuais, o cyberbullying, que tem sido  cada vez mais frequente.

Como lidar ao descobrir que seu filho(a) está praticando bullying?

É comum que os pais fiquem muito abalados ao receber a notícia de que seu filho(a) praticou bullying. Mas é importante manter a calma: em muitos casos, esse comportamento pode estar relacionado a sua propria vulnerabilidade e ligado a dificuldades que a criança está tendo, no âmbito emocional, familiar e/ou social.

A primeira atitude é ouvir a criança: tentar compreender o que a levou a agir dessa forma. Evitar julgamentos imediatos e abrir espaço para o diálogo. As consequências, como um pedido de desculpas, podem ser necessárias, mas devem ter caráter educativo e proporcional. O objetivo é fazer a criança refletir sobre seus atos. Perguntas simples ajudam nesse processo, por exemplo: “O que você sentiria se isso acontecesse com você?” Incentivar o desenvolvimento da empatia, mostrando a importância de respeitar os sentimentos dos outros e de assumir responsabilidade pelas próprias atitudes. Assim, o erro pode se transformar em aprendizado e crescimento.

Como ajudar as crianças a desenvolver empatia?

A empatia é a capacidade de compreender os sentimentos do outro, colocar-se em seu lugar e responder de forma acolhedora. Ela se desenvolve tanto pela compreensão da perspectiva alheia quanto por uma espécie de “contágio emocional”.

Para desenvolver a empatia e a cooperação nas crianças, é importante não apenas falar sobre sentimentos, mas também criar oportunidades concretas para que elas pratiquem ações de cuidado e colaboração no dia a dia. Por exemplo, os pais podem incentivar a criança a ajudar irmãos em alguma tarefa, como arrumar brinquedos juntos ou organizar a mesa e depois dialogar sobre sentimentos envolvidos, como forma de ajudar a criança a identificar e compreender emoções, ao como perguntar: “como você acha que seu irmão se sentiu quando você ajudou?

Algumas possibilidades para promover o desenvolvimento de empatia:

  • Cuidar de animais de estimação: alimentar ou escovar o cachorro ou gato.
  • Atividades de solidariedade: participar da separação de roupas para doação ou ajudar a preparar lanches para amigos e familiares.
  • Pequenas tarefas comunitárias: recolher lixo no quintal ou no parque, regar plantas ou organizar espaços comuns.

Essas experiências práticas permitem que a criança perceba a importância de ajudar o outro, sentindo satisfação com o ato de colaborar.

Mentir é um comportamento comum? Como agir quando as crianças mentem de forma sistemática?

A mentira faz parte do desenvolvimento infantil e, em muitas fases, pode ser entendida como um recurso da imaginação ou da fantasia. É comum que crianças pequenas inventem histórias sem intenção de enganar. No entanto, quando a mentira se torna frequente e intencional, merece atenção. Nesses casos, é importante tentar compreender a motivação: a criança mente para evitar punições? Para chamar atenção? Por insegurança?

O que pode ser feito:

  • Evitar reações exageradas e valorizar a verdade: elogiar quando a criança contar algo verdadeiro, mesmo que seja difícil.
  • Criar um ambiente de confiança: quanto mais segura a criança se sentir, menor a necessidade de mentir.

Punições severas podem resultar em mais mentiras. Com paciência, diálogo e firmeza, os pais ajudam os filhos a compreender a importância da honestidade. Um ponto muito importante: muitos pais mentem para as crianças, gerando mensagens contraditórias sobre a honestidade. Assim, elas aprendem, na prática, que a mentira é aceitável. Filhos expostos às mentiras dos pais têm mais chances de mentir também.

Como responder quando as crianças fazem perguntas sobre a morte e o morrer?

A compreensão da morte surge geralmente a partir dos 5 ou 6 anos, embora crianças que enfrentam doenças crônicas ou perdas precoces possam trazer o assunto antes.

Quando a criança perguntar, deve-se responder de forma clara, simples e sincera, evitar “desconversar” ou dar explicações confusas. Se não souber exatamente como responder, acolher os sentimentos dela e transmitir segurança.

Quando ocorre a morte de alguém próximo, a criança pode ficar muito abalada. É fundamental reconhecer a angústia e manter a possibilidade de diálogo aberta. Isso fortalece os vínculos, ajuda a lidar com medos e promove resiliência. É importante evitar eufemismos como “ele foi embora” ou “descansou”. É melhor usar o termo “ morreu”, mesmo sendo difícil para os adultos. E garantir que a morte não é uma punição e nem é contagiosa.

Como agir quando as crianças têm dificuldades com o sono e não conseguem dormir sozinhas ou no escuro?

A dificuldade para dormir é comum na infância e pode estar ligada a inseguranças, medos ou rotinas irregulares. É necessário tomar medidas que levem em consideração a intensidade dos sintomas de ansiedade de separação e a tolerância dos pais durante esta etapa de transição. Para não causar sofrimento excessivo, os pais devem ir se afastando de forma gradual. Paralelamente, é indispensável procurar manter rotina diurna adequada, e seguir algumas orientações práticas, conhecidas como “higiene do sono”:

  • Estabelecer horários regulares para dormir e acordar, mesmo nos finais de semana;
  • Terminar as tarefas escolares bem antes da hora de dormir;
  • Diminuir gradualmente os estímulos ambientais;
  • Estabelecer uma rotina calma antes de dormir: banho, escovação de dentes, música tranquila, ler ou contar histórias para crianças pequenas e, quando mais velhas, estimular o hábito de leitura;
  • Evitar atividades estimulantes durante a noite;
  • Evitar o uso de telas pelo menos 1 hora antes da hora de dormir;
  • Garantir que o quarto seja um ambiente acolhedor e confortável;
  • Dar apoio emocional, mas incentivando a autonomia, ajudando a criança a se sentir capaz de adormecer sozinha.

    Que orientações práticas podem ajudar a estabelecer limites saudáveis para o uso de telas pelas crianças?

Cada vez mais está claro para os pais que as consequências de uma vida “hiperconectada” são muito ruins, e é necessário estabelecer equilíbrio para que a tecnologia seja uma aliada e não uma fonte de riscos. O uso excessivo de telas pode trazer prejuízos para o sono, o aprendizado, as relações sociais e a saúde mental. Para estabelecer limites:

  • Definir tempos claros de uso, de acordo com a idade: Até os 2 anos de idade, tempo ZERO! A partir de então, e, sempre com supervisão: limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia para crianças com idades entre 2 e 5 anos; Crianças de 6 a 10 anos, máximo de uma ou duas horas por dia. A partir de então, 2 a 3 horas por dia e nunca “virar a noite” jogando;
  • Incluir pausas regulares durante o uso;
  • Evitar o uso de telas pelo menos 1 hora antes da hora de dormir;
  • Não usar telas durante as refeições e passeios;
  • Priorizar atividades com a natureza, ao ar livre, brincadeiras com movimento;
  • Conversar sobre os riscos da internet, como contato com pessoas desconhecidas ou  perigosas ou divulgar informações pessoais;
  • Aumentar o tempo de convivência em família, e servir de exemplo: reduzir também o uso de telas, especialmente quando estiver com seu filho(a).

    Como colaborar para promover a autoestima dos filhos?
  • Incentivar a expressão emocional e mostrar disponibilidade para ouvir com atenção, sem interromper;
  • Valorizar conquistas e qualidades, reforçando o esforço tanto quanto os resultados;
  • Validar os sentimentos: acolher as emoções da criança sem minimizar ou ridicularizar;
  • Criar um ambiente seguro de diálogo, com linguagem acessível e adaptada à idade, sem julgamentos;
  • Mostrar que a casa é um espaço de confiança, onde sentimentos podem ser compartilhados;
  • Se considerar adequado, compartilhar experiências próprias de forma breve, mostrando como lidou com dificuldades e o que aprendeu com elas;
  • Participar da vida escolar, mesmo que não consiga ir a todas as reuniões — o contato com a escola é essencial;
  • Valorizar o tempo juntos com atividades significativas, que podem incluir brincadeiras, jogos, passeios ou até tarefas da casa feitas em conjunto;
  • Reservar momentos para experiências culturais e criativas, que fortaleçam os vínculos e ampliem o repertório da criança.

    Que cuidados os pais precisam ter para evitar que a rotina dos filhos seja fonte de ansiedade?

Uma rotina saudável é essencial para o bem-estar emocional e para o desenvolvimento equilibrado.

  • Manter hábitos consistentes, que incluam: rotina de sono adequada, alimentação equilibrada e ter equilíbrio entre as obrigações e o tempo livre;
  • Evitar sobrecarregar a criança com atividades em excesso;
  • Estabelecer regras e combinados claros, inclusive sobre o uso de telas;
  • Reservar momentos para o lazer, o descanso e a convivência em família;
  • Procurar promover a autonomia de seus filhos(as), Envolva a criança em pequenas responsabilidades domésticas, de acordo com sua idade;
  • Incentivar que tome decisões simples, como escolher a roupa ou organizar o material escolar;
  • Dar espaço para que tente resolver desafios, oferecendo apoio, mas sem fazer tudo por ela.

A autonomia fortalece a confiança e prepara a criança para lidar com situações de forma mais independente e responsável.

Por que é tão importante promover a prática regular de atividades físicas na rotina diária das crianças e adolescentes?

Cada oportunidade de se exercitar traz  benefícios imediatos, que vão além da saúde física. O exercício físico é essencial para a saúde mental e emocional. Ele melhora o humor, a atenção, reduz sintomas de ansiedade, ajuda a estabelecer rotinas e contribui para um sono de melhor qualidade — fundamental para o equilíbrio emocional e o foco.

Algumas atividades favorecem habilidades específicas:

  • Artes marciais (como Judô, Muay Thai, Karatê, Taekwondo, Jiu-Jitsu): desenvolvem foco, autodisciplina e autorregulação emocional, ajudando no controle da agressividade e da impulsividade.
  • Esportes coletivos (futebol, basquete, vôlei, handebol): estimulam o trabalho em equipe, a tomada rápida de decisões, o controle da frustração, a cooperação e a resolução de conflitos.
  • Dança, balé e ginástica artística: fortalecem a conexão entre mente e corpo, melhoram o equilíbrio, a coordenação e, por meio de movimentos ritmados e da respiração, promovem calma, atenção e redução da ansiedade

Entretanto, não é necessário praticar esportes complexos para obter benefícios. Movimentar-se de forma ativa já faz diferença: correr, caminhar, brincar ao ar livre, andar de bicicleta, jogar bola, subir escadas ou até ajudar em casa varrendo o chão são formas simples e eficazes de exercício e promotoras de saúde mental.

Saiba mais:

- Principais Questões sobre Saúde Mental de Crianças: sinais de alerta para APS: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-saude-mental-de-criancas-sinais-de-alerta-para-aps/

- WHO Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour: https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128


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