Publicado/atualizado: novembro/2025
Dr. Evandro Prado
Departamento Científico de Alergia
A dermatite atópica é uma doença inflamatória da pele, crônica e recidivante, isto é, períodos de melhora e piora. Geralmente se inicia na infância e incide em crianças que têm história familiar de atopia. Definimos atopia como uma reação anormal do indivíduo em relação ao ambiente e as manifestações clínicas são a dermatite atópica, rinite alérgica, asma e alergia alimentar. Existe uma predisposição genética que predispõe para essa evolução.
Na maioria dos casos a dermatite se inicia nos primeiros meses de vida e em muitos casos a criança passa a apresentar sintomas respiratórios com o passar dos anos ( marcha atópica). O principal sintoma é a coceira que pode impedir a criança de exercer suas atividades escolares e de lazer na medida em que os anos passam.
Como citei anteriormente, se inicia nos lactentes principalmente na região das bochechas (pele áspera), embora possa acometer quaisquer áreas do corpo, como nas crianças maiores ou até mesmo adolescentes .Nos casos mais graves a pele pode estar muito comprometida com lesões extensas pelo corpo.
Sã vários os tipos de lesão que podemos encontrar: pele avermelhada, úmida, com vesículas, crostras, principalmente nos casos agudos. Nos casos crônicos pele muito seca, áspera, também com muitas lesões na maioria das vezes decorrentes da coceira que é tão mais intensa quanto mais grave é a doença.
A dermatite atópica geralmente antecede as manifestações respiratórias como dissemos acima, mas existem crianças que apresentam dermatite atópica e não evoluem para quaisquer manifestações respiratórias. Por outro lado, algumas crianças ou adolescentes apresentam rinite e/ou asma e depois de alguns anos começam a desenvolver dermatite.
A doença se inicia na camada mais externa da pele que nós chamamos de extrato córneo (pele que tem contato com o exterior). Alterações nessa barreira acarretam uma desorganização das células estruturais com menos lipídeos (gordura) e consequente aumento da permeabilidade cutânea com perda de água. Esse processo permite a penetração de muitas substâncias como aeroalérgenos (proteinas de ácaros), antígenos alimentares e nos casos mais graves e crônicas de microorganismos como bactérias, vírus e fungos. Essa é uma das razões que explicam como é frequente a infecção da pele nesses pacientes.
A dermatite atópica grave e que se inicia precocemente pode ser agravada por sensibilização alimentar e precisamos estar atentos. Os ovos , leite de vaca, soja, trigo, amendoim são aqueles mais implicados. O importante é confirmar realmente se existe agravamento ou manutenção da dermatite após ingestão de um ou mais alimentos. A eliminação sem comprovação clínica não é recomendada, pois são alimentos muito importantes para o crescimento e desenvolvimento das crianças.
Alterações climáticas podem modificar o curso da doença. Altas temperaturas, como no verão, podem agravar a dermatite atópica em função da sudorese excessiva. O suor e o aquecimento da pele levam à coceira e isso aumenta a inflamação. O mesmo pode acontecer nos exercícios extenuantes.
Fatores emocionais, como depressão e ansiedade, são importantes no agravamento da doença. Isolamento social em função do aspecto da pele, a expectativa de não melhorar e cada vez piorar mais, a demora na melhora do quadro, a dificuldade de fazer e manter amigos são pontos que devem ser considerados.
Um dado importante: o melhor resultado é muito dependente da gravidade da doença.
O primeiro passo é explicar para o paciente ou responsáveis o que é importante saber em relação à doença o que sem dúvida facilitará o tratamento. Usar roupas leves , preferentemente de algodão. Evitar roupas colantes e sintéticas que podem agravar a coceira . Banhos de água morna são liberados e não precisam ser únicos, mas rápidos e sempre usar hidratantes após cada banho .Os hidratantes são fundamentais e o melhor hidratante é aquele que a pele absorve melhor. Não são melhores os mais caros, importante citar.
É uma doença inflamatória, portanto os anti-inflamatórios são muito importantes no tratamento
Os cremes de corticóide podem ser usados sempre dando preferência aos de média ou baixa potência (na face). São muitos no arsenal terapêutico e comercializados em farmácias. Atuam como anti-inflamatórios tópicos e não devem ser aplicados em áreas extensas por muito tempo.
Outros anti-inflamatórios podem ser prescritos, mas com cautela. São necessários vários exames antes do seu início e durante o tratamento. São de uso sistêmico, isto é, na apresentação oral.
Os antialérgicos, que na verdade conhecemos como anti-histamínicos, não dão bom resultado porque a coceira é mais desencadeada pela inflamação do que pela liberação de histamina. A histamina é uma substância que participa de muitas doenças alérgicas, mas tem papel secundário na fisiopatologia da dermatite atópica.
Nos últimos anos foram desenvolvidos medicamentos que têm uma maior possibilidade de melhorar e controlar a doença. São os chamados biológicos que têm como função a inibição das substâncias produzidas e liberadas de células que inflamam a pele. Esse grupo de medicamentos vem sendo prescrito com bons resultados o que aumenta a esperança de maior controle da doença.
O tratamento deve ser multidisciplinar: a participação de pediatras, alergistas, dermatologistas, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras é de suma importância. Todos podem contribuir para o sucesso no tratamento, pois é uma doença extremamente complexa com causas distintas, resultados no tratamento por vezes desanimadores e com repercussões psico-emocionais relevantes.
A finalidade do tratamento é melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares