Publicado/atualizado: dezembro/2025
Dra. Adelma Alves de Figueirêdo
Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica
Doença celíaca é uma intolerância permanente à algumas proteínas presentes no glúten. Essa intolerância só ocorre nas pessoas que nascem com predisposição genética. Assim, quem tem a genética para ser celíaco e consome glúten pode apresentar, em algum momento da sua vida, sinais e/ou sintomas da doença celíaca.
O glúten é uma proteína alimentar presente no trigo, no centeio e na cevada. Como a aveia pode ter contaminação com o glúten, ela também deve ser excluída da dieta.
Não. Cerca de 30% das pessoas que têm essa herança genética nunca serão celíacos. Também não se sabe o que faz disparar o gatilho, uma vez que a doença pode começar na infância ou apenas na vida adulta.
O sistema imune do celíaco reage de forma exacerbada a ingestão do glúten (reação autoimune) causando uma inflamação na mucosa do intestino delgado e encurtamento das suas vilosidades (atrofia). Como os alimentos são absorvidos nessa parte do nosso intestino, se ela estiver inflamada ocorrerá uma má absorção dos micronutrientes (vitaminas, ferro e outros minerais) e dos macronutrientes (lipídeos, proteínas e carboidratos).
As manifestações são as mais variadas. A forma mais fácil de se reconhecer é a diarreia crônica, com fezes geralmente gordurosas, distensão e dor abdominal, perda de peso e até desnutrição. No entanto, a pessoa pode ter sintomas leves ou inespecíficos, como gases em excesso, anemia crônica, baixa estatura, deficiência de micronutrientes que não respondem ao tratamento correto, infertilidade por deficiência de folato, dificuldade em ganhar peso, entre outros.
Sim. Como é uma doença genética, as pessoas com doenças autoimunes têm maior predisposição a: 1) diabetes tipo I, tireoidite, lúpus, ...; 2) pessoas portadoras de algumas síndromes, como a trissomia do 21; 3) os parentes de doentes celíacos, sobretudo os de primeiro grau; 4) os caucasianos, entre outras. As pessoas do grupos 1 e 2 devem realizar investigação periódica, mesmo sem sintomas; as do grupo 3 devem ser investigadas após o diagnóstico do primeiro caso.
Nunca, pois o glúten entra na preparação de diversas receitas e na cultura alimentar de muitas pessoas. A retirada pode levar ao desequilíbrio da dieta e causar danos nutricionais e emocionais. Além disso, as pessoas que assim o fazem, geralmente não excluem completamente, o que leva a confusão diagnóstica caso venham a ser celíacos.
Nos casos suspeitos e/ou nos grupos de risco devemos pedir inicialmente a sorologia para doença celíaca. A principal é o anticorpo anti-transglutaminase tecidual IgA. Caso positivo, se prossegue para a segunda etapa, que é a realização de biópsias do intestino delgado por meio de endoscopia digestiva alta. As amostras coletadas serão examinadas por um patologista e o laudo nos permite firmar ou não o diagnóstico. Caso a sorologia seja negativa, mas exista uma forte suspeita clínica, o médico ainda pode optar pela biopsia endoscópica. Ela é o único exame definitivo para diagnosticar ou excluir a doença. Porém, se mesmo assim as dúvidas persistirem, um especialista experiente deve ser consultado. Sempre com o cuidado de não colocar a pessoa em dieta de exclusão de glúten antes de fechar o diagnóstico.
O tratamento é feito com a e exclusão do glúten da dieta por toda a vida, já que essa é uma condição permanente. Ressaltamos que a retirada do glúten deve ser completa. Mínimas quantidades de glúten podem ativar a resposta imune e manter a inflamação, o que pode trazer consequências ruins. Outra medida é a suplementação dos nutrientes faltantes. Recomendamos o acompanhamento com gastroenterologista e nutricionista, para a introdução de alimentos seguros, sem glúten, e a correta substituição destes por outros, isto manterá uma alimentação equilibrada, que evitará prejuízos ao crescimento das crianças e adolescentes.
Para saber mais, consulte o site da Federação Brasileira de Celíacos (www.fenacelbra.com.br).