Publicado/atualizado: outubro/2025
Dra. Virginia Tafas Nobrega
Departamento Científico de Nutrologia
É a forma mais comum de anemia na infância e é causada pela redução dos estoques de ferro no organismo. O ferro é um mineral essencial para a produção de hemoglobina, uma proteína encontrada dentro das células vermelhas, responsável pelo transporte de oxigênio no sangue.
Os fatores associados ao desenvolvimento da anemia ferropriva são principalmente o alto consumo do corpo em crescimento, a baixa ingestão de alimentos ricos em ferro, a má absorção e as perdas de sangue. Esses fatores podem ser isolados ou associados, e neste caso, pode acelerar ainda mais o processo de desenvolvimento da anemia.
Os sintomas variam conforme a idade e a gravidade. As crianças podem ter pele pálida, queda de cabelo, cansaço, vontade de comer coisas não alimentares, como terra ou reboco, e atraso no crescimento. Nos casos mais graves, podem surgir tonturas, sonolência, fraqueza ou cansaço com pequenos esforços.
Nos primeiros anos de vida, o corpo cresce rapidamente e precisa de mais ferro. Além disso, nesse período, ocorre a transição alimentar, que muitas vezes é pobre nesse mineral, principalmente se há pouco consumo de carne vermelha. Outros fatores também podem aumentar o risco como a prematuridade, o consumo excessivo de leite de vaca, falta de suplementação adequada e doenças crônicas.
A suplementação de ferro deve ser utilizada em lactentes durante a transição alimentar, principalmente nas crianças com baixa oferta de ferro na dieta. Crianças com fatores de risco, como prematuros, a suplementação de ferro deve ser mais precoce.
Conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, em lactentes sem fatores de risco é recomendado o uso do ferro suplementar a partir do 6º mês de vida até os 2 anos. No caso de alimentação rica em ferro heme ou em lactentes que utilizam fórmula infantil, a quantidade de ferro a ser ofertada deve ser recalculada para evitar sobrecarga.
Sim. O leite materno oferece ferro suficiente até os 6 meses, mas depois dessa idade as necessidades aumentam. Por isso, recomenda-se a suplementação a partir dos 6 meses, até que a criança receba ferro adequado pela alimentação. Em populações com maior risco, pode ser mantida até os 2 anos.
A prevenção começa com o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e uma introdução alimentar rica em ferro, como carnes, feijão e vegetais verdes escuros, combinados com frutas ricas em vitamina C. É importante evitar leite, café ou chá junto às refeições e manter acompanhamento com o pediatra para avaliar a necessidade de suplementação.
Mesmo sem sintomas, toda criança entre 1 e 2 anos deve fazer exames para detectar anemia, como hemograma e ferritina. Também é importante procurar o pediatra se houver palidez, cansaço, falta de atenção, queda de cabelo, dor de cabeça ou mudança no apetite. O diagnóstico precoce evita complicações.
O tratamento é feito com medicamentos à base de ferro, na dose calculada conforme o peso da criança, por pelo menos oito semanas, e mantido até normalizar os estoques. Além disso, é fundamental ajustar a alimentação para incluir alimentos ricos em ferro e garantir o sucesso do tratamento.
A falta de ferro pode prejudicar o desenvolvimento cerebral, causar dificuldades de aprendizado, atenção e comportamento, além de afetar o crescimento. Mesmo após a correção da anemia, alguns danos podem permanecer. Por isso, diagnosticar e tratar cedo é essencial para o desenvolvimento saudável da criança.