Publicado/atualizado: novembro/2025
Departamento Científico de Saúde Escolar
A violência tem aumentado na sociedade em geral e também na escola. Manifesta-se das mais variadas formas, causando danos à socialização, saúde mental, aprendizado e segurança dos estudantes.
Dentre as diversas formas de violência presentes em nossa sociedade, algumas são mais recorrentes no ambiente escolar. Entre elas destacam-se:
Violência física: caracterizada por agressões que atingem o corpo;
Violência psicológica: que envolve constrangimentos, agressões verbais ou atitudes discriminatórias;
Violência contra o patrimônio: manifestada em atos de depredação de bens da escola.
A expressão mais comum de violência nesse contexto é o bullying, que pode ocorrer de maneira física ou psicológica, comprometendo o bem-estar dos estudantes e a qualidade das relações no espaço escolar.
É importante ressaltar que a escola deve ser um local seguro para toda a comunidade.
A escola precisa ficar atenta aos sinais de bullying e agir para prevenir, já que esse comportamento costuma se repetir e pode ficar cada vez mais grave com o tempo.
Alguns sinais que merecem atenção da escola e da família são: alterações no comportamento do estudante, como agitação, isolamento; falta de interesse pelas atividades; recusa em frequentar as aulas; choro constante; presença de machucados recorrentes; queda no rendimento escolar; além de mudanças nos hábitos alimentares ou do comportamento durante o intervalo.
O perfil dos estudantes que sofrem bullying não é único, pois qualquer criança ou adolescente pode se tornar alvo. Entretanto, algumas características podem aumentar a vulnerabilidade:
Estudantes que se diferenciam do “padrão” do grupo, seja em relação à altura, peso, cor da pele, uso de óculos, aparelho ortodôntico, vestimenta ou por apresentarem necessidades especiais;
Alunos mais tímidos, introvertidos, com baixa autoestima ou que demonstram insegurança, apresentando dificuldade em impor limites ou em se defender;
Crianças e adolescentes provenientes de diferentes contextos culturais, religiosos ou socioeconômicos;
Estudantes LGBTQIA+.
O papel da escola frente à violência envolve três dimensões principais: prevenção, identificação e intervenção.
Prevenção: deve ser realizada por meio de ações de conscientização e diálogo envolvendo alunos, professores, equipe gestora, famílias e comunidade, promovendo uma cultura de paz e respeito.
Identificação e intervenção precoce: podem ser fortalecidas com a criação de núcleos de prevenção à violência na escola. Esses núcleos podem ser compostos por um aluno representante de cada turma e por um educador de referência, que inspire confiança dos estudantes e atue como mediador de conflitos e canal de escuta para situações de bullying.
Intervenção: quando a violência é identificada, a escola deve adotar medidas internas de apoio e mediação, além de cumprir as responsabilidades legais. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, Artigo 13, é dever da instituição notificar os casos de violência ao Conselho Tutelar.
É importante destacar que não cabe à escola investigar ou julgar situações suspeitas ou reveladas de violência, mas sim acolher, registrar e encaminhar de forma responsável.
A família desempenha papel fundamental na redução da violência escolar, ao promover um diálogo saudável em casa e incentivar uma cultura de respeito e conversa dentro da escola, evitando justificativas como “bater para se defender” ou discursos que reforcem a vitimização.
Sempre que houver suspeita ou identificação de algum tipo de violência, os familiares devem procurar a gestão escolar para atuar como mediadora do conflito, evitando confrontos diretos com a família do agressor que possam agravar a situação.
Além disso, as famílias podem contribuir participando das atividades culturais e esportivas promovidas pela escola, fortalecendo a construção de um ambiente de convivência saudável entre estudantes, familiares e comunidade escolar.
Todas as crianças e adolescentes têm direito à proteção, garantida pelo ECA (artigo 5o,Lei 8069 de 13/7/1990) e pela Constituição Federal. Para isso, existem serviços e políticas públicas que atuam na saúde,
Escolas e programas como o Programa Saúde na Escola (PSE), promovendo educação e saúde;
Letramento ou Cidadania digital que conscientiza o estudante saber lidar com os recursos mais recentes que interferem no comportamento;
Agentes de saúde e unidades básicas, acompanhando famílias em risco;
Conselheiros tutelares, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), oferecendo apoio especializado;
Leis como a nº 14.811/2024, que institui medidas de proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares.
Famílias e comunidade também participam, ajudando a criar ambientes seguros e inclusivos para todos os estudantes.
Eventos pontuais, discussões acaloradas, agressões e brigas que não se repetem, brincadeiras que não causem humilhação ou constrangimento não configuram bullying – ou seja, o que for resolvido no momento não é considerado agressividade repetitiva. Conflitos entre professor e aluno ou aluno e gestor também não são considerados bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo).
Os espectadores tem papel importante na regulação e controle dos casos pois dependendo de suas atitudes de apoio à vitima podem reduzir significativamente a sua ocorrência, intermediando junto ao agressor, sem se omitir ou estimular essa prática pedindo a colaboração de um adulto, professor, coordenador, inspetor que possam intervir, já que o aluno vitimizado normalmente está em desvantagem física ou emocional. Escola e familia devem reforçar os meios de diálogo e soluções amigáveis.
As meninas tendem a ter comportamento com exclusão social, isolamento, boatos e fofocas. tendo mais repercussão nesse gênero que nos meninos. Além disso, têm mais sensibilidade e maior facilidade de serem atingidas emocionalmente que os meninos;
Nos meninos predominam as atitudes de natureza física não menos importantes, porém com características especificas como fazer tropeçar, chutar, bater, empurrar, danificar ou roubar pertences.
O termo inglês bullying, embora antigo, foi introduzido pelo psicólogo norueguês, Dan Olweus, cujas agressões ja causavam problemas de saúde mental e ganhou notoriedade com a publicação de um estudo longitudinal na década de 80 com 2500 escolares. Seu programa pioneiro de prevenção serve de base para os dias atuais. Dan Olweus era professor de psicologia na Universidade de Bergen, Noruega, onde recebeu o titulo de doutorado. A seguir da pesquisa apresentou um programa de prevenção da violência pela Universidade do Colorado, que tinha como base as diversas formas de problemas comportamentais nas escolas. Faleceu em 2020, deixando um vasto legado cientifico.