Voltar ao Portal SBP
Traumatismo Cranioencefálico Leve na Infância

Publicado/atualizado: outubro/2025

Dra. Laís Munhoz Soares

Dr. Fernando Augusto Medeiros Carrera Macedo

Departamento Científico de Emergência Pediátrica

Cair, levantar e brincar de novo: esse é o retrato da infância. No meio dessas descobertas, bater a cabeça acidentalmente é comum e assusta os adultos, porém, na maior parte das vezes, não traz consequências graves. Ainda assim, é natural que pais e cuidadores fiquem apreensivos quando isso acontece, afinal, a cabeça é uma região delicada e exige atenção.

O objetivo deste material é orientar de forma clara e segura sobre o que é o traumatismo cranioencefálico leve (TCE leve), quando é necessário procurar o hospital e como cuidar da criança em casa. Todas as informações aqui foram elaboradas com base em protocolos nacionais e internacionais e em consonância com o Departamento Científico de Emergência Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Atenção: este material não substitui a avaliação médica.        

O que é um traumatismo cranioencefálico leve?

É quando a criança sofre um impacto na cabeça, permanece acordada, interage normalmente e não apresenta sinais de lesão grave (como fratura evidente, alteração comportamental importante ou anormalidades no exame neurológico). A confirmação do grau do trauma é feita pelo(a) médico(a) após avaliação clínica, quando indicada.

Quando devo levar meu filho ao hospital?

Procure atendimento imediato se houver qualquer um dos sinais abaixo:

  • Perda de consciência, mesmo que breve.
  • Três ou mais episódios de vômitos.
  • Sonolência excessiva ou dificuldade para acordar.
  • Irritabilidade importante, confusão ou fala enrolada.
  • Convulsão após o trauma.
  • Sangue ou líquido claro saindo pelo nariz ou ouvido.
  • Fraqueza em braços ou pernas, dificuldade para andar, prostração.
  • Alterações visuais (visão dupla) ou movimentos anormais dos olhos.
  • Crianças < 2 anos: choro inconsolável, recusa alimentar, alteração de comportamento, ou fontanela (moleira) abaulada.
  • Mecanismo de trauma grave.

O que é considerado um mecanismo de trauma grave?

Chamamos de mecanismo grave situações em que a intensidade do trauma ou da queda aumenta o risco de lesão interna, mesmo que a criança pareça bem no primeiro momento. Exemplos:

  • Queda de altura significativa:
    • acima de 1,5 m em crianças maiores de 2 anos ou
    •  acima de 0,9 m em menores de 2 anos.
  • Acidentes de trânsito: atropelamento, colisão com morte de outro ocupante, capotamento, ejeção da criança do veículo.
  • Impacto direto de grande força, como objetos pesados sobre a cabeça.
  • Fratura craniana visível ou palpável.
  • Convulsão logo após o trauma.

Nesses casos, a avaliação médica deve ser imediata e pode haver necessidade de tomografia.

Toda criança precisa fazer tomografia após um traumatismo leve?

Não. A maioria das crianças com TCE leve não precisa de tomografia. A decisão é individualizada e segue regras de decisão clínicas validadas que ajudam a identificar quem realmente se beneficia do exame, reduzindo a exposição desnecessária à radiação associada ao exame, que pode ser prejudicial.

Meu filho pode dormir depois do trauma?

Sim. Não é necessário acordá-lo a cada hora. O que os cuidadores devem fazer é observar se quando a criança acorda ela age normalmente conforme sua rotina, reconhece o ambiente e responde de forma adequada. O surgimento de sinais de alerta acima descritos exige retorno imediato ao serviço de saúde.

Quanto tempo devo observar sinais de alerta?

As primeiras 24 a 48 horas são as mais críticas. Nesse período, a criança deve estar acompanhada por um adulto que possa levá-la ao hospital a qualquer momento. Se houver qualquer sinal de alerta, procure imediatamente atendimento médico.

O que devo evitar depois de um traumatismo leve?

  • Brincadeiras de impacto e esportes de contato.
  • Novas quedas (em lugares como: escadas, camas altas, parquinhos).
  • Medicamentos sem orientação médica.
  • Retorno precoce a esportes, especialmente se houver sintomas de concussão (dor de cabeça, tontura, dificuldade de concentração).

Existe risco de sequelas?

Na maioria dos TCEs leves, a recuperação é completa. Alguns sintomas (dor de cabeça, tontura, cansaço, dificuldade de concentração) podem durar dias a poucas semanas. Se os sintomas persistirem ou piorarem, procure reavaliação. Em geral, as crianças melhoram de 2 a 4 semanas. Casos que exigem cirurgia são raros no contexto de TCE leve.

O que é concussão?

A concussão é um tipo de traumatismo leve em que ocorre uma alteração temporária do funcionamento do cérebro, com sintomas como confusão, vômitos, esquecimento ou sonolência. Nessas situações, a criança não deve obrigatoriamente ser avaliada num serviço de emergência. Após 24–48 h de repouso relativo, o retorno às atividades deve ser gradual (escola primeiro; esportes depois), seguindo etapas e com liberação médica. Se algum sintoma reaparecer, a criança deve ser reavaliada.

Como posso cuidar da criança em casa?

  • Manter a criança em um ambiente tranquilo e supervisionado.
  • Oferecer líquidos e alimentação leve conforme o apetite.
  • Usar compressa fria por 10–20 minutos nas primeiras 24–48 h para aliviar a dor e o inchaço local (“galo”).
  • Administrar apenas os medicamentos orientados por um médico.
  • Conhecer os sinais de alerta e saber como agir se surgirem.

Prevenção no dia a dia

  • Usar obrigatoriamente no carro assentos apropriados (bebê conforto, reversível, elevatório) e cinto de segurança que sejam adequados ao peso da criança.
  • Incentivar o uso de capacete bem ajustado em bicicletas, patinetes e esportes sobre rodas.
  • Instalar grades de proteção em janelas e escadas, e supervisionar as crianças em playgrounds.
  • Nunca sacudir um bebê. Movimentos bruscos provocados podem causar lesões cerebrais gravíssimas. Se sentir frustração ou dificuldade em acalmar o choro, coloque o bebê em um lugar seguro e peça ajuda.

Mensagem final aos familiares

As batidas acidentais na cabeça fazem parte da infância. A maioria delas é leve e não traz complicações. O mais importante é que os pais e cuidadores saibam identificar os sinais de alerta e procurem ajuda médica quando necessário ou em caso de dúvidas.

E lembrem-se: embora quedas e acidentes sejam comuns durante o crescimento, sempre que possível é fundamental prevenir. Medidas simples, como as citadas acima, e supervisão atenta e adequada reduzem muito a chance de lesões graves.

Com atenção, prevenção e informação, é possível cuidar da criança com segurança e tranquilidade!


Sociedade Brasileira de Pediatria

SBP-Sede

R. Santa Clara, 292 Copacabana - Rio de Janeiro (RJ) - CEP: 22041-012 • 21 2548-1999

FSBP

Alameda Jaú, 1742 – sala 51 - Jardim Paulista - São Paulo (SP) - CEP: 01420-006 • 11 3068-8595

SBP-RS

Av. Carlos Gomes, 328/305 - Auxiliadora - Porto Alegre (RS) - CEP: 90480-000 • 51 3328-9270 / 51 3108-3328

Assessoria de Imprensa

360° Comunicação Integrada (21) 2548-1999 [email protected]