Há dois anos o aumento no número de casso de microcefalia assustou o Brasil. O crescimento da doença ocorreu à medida que uma epidemia de zika vírus se espalhou pelo país. Em pouco mais de um ano, mais de dois mil casos foram registrados oficialmente apavorando pais, intrigando médicos e mobilizando o governo.
De lá para cá, foram poucos os avanços científicos capazes de esmiuçar a relação do zika vírus com a microcefalia, mas não há dúvidas que ela existe. E no meio de tantas incertezas uma pergunta paira entre a sociedade: qual o futuro das crianças com microcefalia?
Não existe resposta simples. Mas se tivesse que resumir em uma frase, a neurologista pediátrica Emília Katiane afirmaria que o futuro dessas crianças está no esforço coletivo de alcançar diagnósticos e tratamentos precoces e no compromisso do governo e da sociedade em incluir socialmente essas crianças.
São dois grandes desafios. E estes desafios serão debatidos no 19° Fórum da Academia Brasileira de Pediatria, em março, em Salvador, durante painel em que a neuropediatra é palestrante.
A microcefalia é um sinal de que algo não vai bem com o cérebro. As primárias, de causa genética, provocam cabeças menores e mais comprometimentos cognitivos do que motores. Já a secundária, causada por uma infecção, caso desse surto recente que viveu o Brasil, ocorre quando um vírus lesiona o cérebro e impede seu desenvolvimento normal.
A doença não tem cura e o tratamento ideal inclui sessões de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional pelo menos três vezes por semana para estimular a criança, diminuir o retardo mental e também o atraso do desenvolvimento crescimento. O problema, segunda a dra. Emília, é que boa parte dos estados não têm a estrutura básica para atender essas necessidades.
“Conseguir fazer uma ressonância aqui na Bahia, por exemplo, em um paciente com menos de cinco anos, que precisa de sedação, é uma dificuldade. Tem pacientes que levam quase um ano esperando”, explica a médica. Essa demora é debilitante. Em casos de microcefalia, o diagnóstico precoce faz toda a diferença no desenvolvimento da criança.
Segundo a dra. Emília, o pediatra, além de trabalhar como um coordenador da equipe multidisciplinar que envolve fonoaudiólogos, neurologistas e fisioterapeutas, para citar algumas especialidades, tem papel fundamental no acolhimento da família.
Superados os desafios do diagnóstico e da intervenção precoce, é hora de acolher as crianças na sociedade. “O preconceito é um problema. É muito comum vermos pais que impedem seus filhos saudáveis de se aproximarem de crianças com microcefalia. O preconceito é fruto da falta de informação. A sociedade precisa aceitar e querer fazer alguma coisa. O poder público também. Não pode jogar para debaixo do tapete e fingir que está fazendo”, afirma a pediatra.
Para a dra. Emília, não adianta o poder público fazer lei que obriga a escola a matricular essas crianças, se as instituições não tiverem estiverem preparadas. É preciso treinar professores e auxiliares para tratar esses alunos especiais em suas individualidades.
O futuro das crianças com microcefalia será tema do painel “Meio Ambiente, Saneamento e Arboviroses”, que contará ainda com especialistas para debaterem “O saneamento no Brasil e sua influência nas Arboviroses” e a “Divisão de responsabilidades no tratamento e prevenção: Estado e sociedade civil, qual o papel de cada setor?”.
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