Crianças e adolescentes podem fazer musculação? Pediatras explicam os impactos das atividades físicas à saúde

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar um documento científico para sanar as dúvidas de pais e responsáveis sobre o impacto da prática de esportes e outras atividades físicas, como a musculação, à saúde de crianças e adolescentes. A publicação, elaborada pelo Departamento Científico de Endocrinologia da SBP, apresenta orientações específicas sobre as repercussões associadas a quatro campos: crescimento, desenvolvimento puberal, mineralização óssea e neurocognição. 

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De acordo com o texto, exercitar o corpo de forma rotineira produz benefícios a variados órgãos e sistemas do corpo: reduz a pressão arterial, previne a obesidade e melhora o perfil lipídico. Além disso, as atuais evidências científicas já corroboram que a atividade física é segura para a população pediátrica, quando executada em intensidade leve ou moderada, tanto em práticas aeróbicas quanto anaeróbicas. 

DESENVOLVIMENTO ÓSSEO — As preocupações tradicionais de que os treinamentos de resistência, como a musculação, são prejudiciais ao esqueleto imaturo de jovens já foram superadas, uma vez que o atual consenso científico indica a infância e a adolescência como um momento oportuno para o processo de modelação e remodelação óssea. Conforme indica a publicação da SBP, durante o exercício físico, a contração muscular promove um aumento da atividade na região óssea próxima aos locais onde os músculos se inserem, levando ao aumento da mineralização óssea.

Dessa forma, o treinamento de resistência é recomendado pela SBP, sendo indicados programas graduais, que podem ser iniciados aos 8 anos de idade com pesos livres (e não máquinas fixas) de até 15 kg, por não mais que 30 minutos e três vezes por semana. É importante ressaltar a necessidade de supervisão individual e a associação com exercícios aeróbicos, tais como corridas, esteira ergométrica ou bicicleta, também por períodos de 30 minutos.

Uma revisão sistemática, que analisou o efeito do treinamento de força ou exercício de resistência sobre o crescimento longitudinal em crianças de 7 a 12 anos, concluiu que o treinamento de força não influencia negativamente no crescimento linear das crianças. “De forma ampla, ao serem submetidos a exercício de resistência, meninos e meninas pré-adolescentes (com baixas concentrações de andrógenos) apresentam ganho de força muscular, sem hipertrofia muscular; ao passo que, após a puberdade há um aumento do crescimento muscular, por hipertrofia muscular real, mas sempre sem limitar o crescimento linear”, diz o texto.

RISCOS ASSOCIADOS — O documento da SBP também traz alguns alertas. Os principais riscos dos esportes e das atividades físicas realizadas de forma inadequada — em desacordo com a idade, com o desenvolvimento motor e com o estado de saúde — são as lesões musculoesqueléticas (fraturas, osteocondroses, tendinite, escoliose, osteocondrite, espondilose) e a disfunção menstrual.

“Cargas pesadas de treinamento, principalmente quando combinadas com dietas alimentares de baixa energia e distúrbios alimentares, atrasam os marcos da puberdade. Em atletas de esportes que não exigem controle rigoroso de peso, não foi documentado um impacto negativo no crescimento ou no desenvolvimento puberal”.

COGNIÇÃO  A SBP ressalta que o exercício físico melhora o suprimento de oxigênio e nutrientes para o cérebro, por aumentar a circulação sanguínea do corpo. Essa dinâmica estimula a maturação das áreas motoras no cérebro, que por sua vez influenciam o desenvolvimento motor e aumentam a velocidade de condução dos impulsos nervosos. Há evidências de que o treinamento físico apropriado, incluindo treinamento de resistência e levantamento de peso, pode promover cognição aprimorada, bem-estar psicológico, autoestima e maior tolerância à dor. 

“Crianças em idade escolar que dedicam pelo menos uma hora por dia de atividade física com exercícios intensivos mostram um funcionamento cognitivo muito melhor. No entanto, apesar desses benefícios inquestionáveis, apenas cerca de um terço das crianças pratica esportes regularmente”, conclui a publicação. 

CONFIRA ABAIXO AS RECOMENDAÇÕES GERAIS DE ATIVIDADES POR FAIXA ETÁRIA:

De 0 a 2 anos: crianças que conseguem andar sozinhas devem permanecer fisicamente ativas todos os dias, durante pelo menos 180 minutos, em atividades que podem ser fracionadas ao longo do dia. Os 180 minutos podem incluir atividades leves (ficar de pé, mover-se, rolar e brincar) e atividades mais energéticas (saltar, pular e correr). Recomenda-se que o tempo de tela (TV, tablet, celular, jogos eletrônicos) seja zero.

De 3 a 5 anos: devem acumular pelo menos 180 minutos de atividade física de qualquer intensidade distribuída ao longo do dia, incluindo uma variedade de atividades em diferentes ambientes e que desenvolvam a coordenação motora. Brincadeiras ativas, andar de bicicleta, atividades na água, jogos de perseguir e jogos com bola são as melhores maneiras para essa faixa etária se movimentar

De 6 a 19 anos: devem acumular pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa, aquelas que fazem a respiração acelerar e o coração bater mais rápido, tais como: pedalar, nadar, brincar em um playground, correr, saltar e outras que tenham, no mínimo, a intensidade de uma caminhada. Atividades de flexibilidade e de intensidade vigorosa, incluindo aquelas que são capazes de fortalecer músculos e ossos, devem ser realizadas pelo menos três dias por semana.