A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) participou, do seminário “Zika, dez anos depois: ciência, cuidado e compromisso com o futuro”, promovido pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fiocruz (IFF/Fiocruz), na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Representando a instituição, esteve presente a diretora secretária-geral da SBP, dra. Maria Tereza Costa, ao lado de pesquisadores, especialistas e gestores que revisitaram os marcos da epidemia e apontaram caminhos para o futuro da assistência às crianças e adolescentes afetados pela Síndrome Congênita do Zika Vírus.
A resposta científica e institucional à epidemia: legado e vigilância permanente
No evento, ocorrido no dia 29 de novembro, o diretor do IFF, professor Antônio Flávio Vitarelli Meirelles, relembrou a rápida mobilização dos pesquisadores brasileiros para identificar a relação entre a síndrome febril causada pelo Zika vírus e as malformações congênitas observadas em 2015.
“Descobrir a causa e a relação com os casos de microcefalia e outras malformações não foi simples, mas o esforço concentrado e o papel central da Fiocruz — reconhecido pela OMS — revelaram nossa capacidade de responder a emergências sanitárias. Isso nos mantém vigilantes para novos agravos”, destacou.
Ele ressaltou que a última década trouxe avanços no cuidado prestado pelo SUS, especialmente no atendimento multidisciplinar essencial às crianças acometidas. Segundo afirmou, a preparação para novas epidemias é urgente diante das mudanças ambientais e climáticas que favorecem doenças emergentes.
O professor Vitarelli Meirelles também lembrou conquistas no campo dos direitos sociais. “Hoje cerca de 1.500 famílias recebem o benefício máximo do INSS, o que garante continuidade ao tratamento dessas crianças. É um avanço importante”, disse.
Sua mensagem às famílias reforçou a centralidade do Sistema Único de Saúde:
“A luta por direitos é fundamental. O SUS é um patrimônio da sociedade brasileira, o maior sistema público universal de saúde do mundo. Não podemos abrir mão dele”, frisou.
IFF e Fiocruz: compromisso histórico com a ciência, o cuidado e as famílias
O pesquisador voluntário professor Luiz Antônio Teixeira destacou que o seminário teve, ao mesmo tempo, um caráter de homenagem e reconhecimento. “Esse evento representa homenagear as mães, as crianças e as pessoas que viveram a epidemia. E, ao mesmo tempo, celebrar a capacidade do IFF de ajudar o SUS na proteção e no cuidado dessas crianças, bem como na produção científica que permitiu identificar a doença e compreender seus efeitos”, afirmou.
Para ele, embora não se trate de uma comemoração, o encontro demonstrou a força da instituição diante de crises sanitárias. “A Fiocruz só conseguiu responder assim porque acumula 125 anos de experiência em emergências. A atuação na Zika foi um alicerce para as contribuições posteriores na pandemia de Covid-19.”
Em mensagem dirigida às mães e famílias, o pesquisador reforçou o vínculo entre profissionais e população: “Estamos no mesmo barco. Muitas vezes parece que estamos em polos diferentes, mas não estamos. Buscamos soluções conjuntas, úteis a todas as mulheres e crianças. Esperamos trabalhar cada vez mais lado a lado para atender às expectativas dessas famílias”.
Avanços científicos e desafios persistentes: evolução clínica e diagnóstica
A pediatra e pesquisadora dra. Maria Elisabeth Lopes Moreira (Bebeth) avaliou os avanços no conhecimento sobre a síndrome congênita e seus desdobramentos. “Aprendemos muito sobre a evolução dessas crianças, que hoje têm entre 8 e 10 anos. Os desafios mudaram: surgem questões ortopédicas, dificuldades de inclusão escolar e a proximidade da adolescência. Ainda não temos um bom teste diagnóstico, e isso permanece sendo um grande obstáculo”, explicou.
Ela destacou também a importância da estimulação precoce, especialmente para crianças expostas ao vírus, mas sem microcefalia: “A neuroplasticidade permite recuperação significativa quando há diagnóstico e intervenção no tempo certo.”
Políticas públicas e direitos: o caminho para o futuro
A pediatra e coordenadora do Núcleo de Apoio aos Profissionais que atendem crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos (NAP) do IFF/Fiocruz, dra. Rachel Niskier, destacou a necessidade de políticas públicas integradas para garantir inclusão, reabilitação e qualidade de vida.
“É uma doença grave, que traz tragédia para as famílias. A classe política e os gestores precisam estar articulados para garantir, mesmo sem uma solução definitiva como uma vacina, uma vida com mais qualidade às crianças e adolescentes afetados.”
O papel do pediatra no cuidado continuado – O pediatra dr. José Augusto Brito relembrou o mutirão multiprofissional realizado pelo IFF no auge da epidemia, que avaliou cerca de 300 crianças e originou uma coorte acompanhada até hoje.
“Essas crianças são consideradas portadoras de doença crônica, complexa e dependentes de tecnologia. O pediatra generalista é quem coordena essa linha de cuidados, integra as informações das diversas especialidades e ajuda a família a entender o tratamento, como quem monta um quebra-cabeças”, disse.
Ele destacou ainda as barreiras enfrentadas pelas mães, especialmente a dificuldade de acesso a um atendimento multidisciplinar contínuo no serviço público.
Compromisso com o futuro – O seminário reforçou que o enfrentamento à síndrome congênita pelo Zika vírus exige vigilância, políticas públicas robustas, avanços diagnósticos e defesa contínua dos direitos das crianças e adolescentes.
Dra. Maria Tereza Costa disse que estar presente no seminário reforça o compromisso da instituição com a promoção da saúde e com a valorização dos profissionais que atuam no cuidado dessas crianças.
“É importante a SBP participar de um evento que nos recorda os impactos da epidemia e o surgimento da Síndrome Congênita. Precisamos reconhecer o trabalho incansável de pesquisadores e, especialmente, as trajetórias de luta das mães. Elas conquistaram avanços, mas ainda precisam de apoio do Estado e da sociedade”, afirmou.
A diretora destacou também o papel dos pediatras brasileiros nesses 10 anos:
“Pediatras de diversos Estados têm acompanhado essas crianças desde 2015 em ambulatórios de referência. É um trabalho que merece ser profundamente reconhecido.”
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