Pediatras alertam para os riscos do álcool na adolescência diante de intoxicações por metanol

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta quinta-feira (2), uma nota de alerta sobre os recentes casos de intoxicação por metanol no País, decorrentes do consumo de bebidas adulteradas. A entidade lembra que, embora a venda e o uso de bebidas alcoólicas sejam proibidos para menores de 18 anos, o consumo ilegal é frequente entre adolescentes brasileiros. Pesquisas indicam que a iniciação costuma ocorrer dentro de casa, entre 12 e 13 anos de idade. Diante desse cenário, a SBP orienta pediatras, pais e responsáveis a reforçarem as advertências sobre os riscos imediatos e duradouros do consumo de álcool.

Conforme destaca a presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento às Causas Externas da SBP, dra. Renata Waksman, a adolescência é uma fase marcada por mudanças biológicas e sociais, que naturalmente, levam os jovens a buscar novas experiências, incluindo a experimentação de álcool e outras drogas. 

“Alguns motivos elevam esse risco, como a sensação de onipotência, a curiosidade, a impulsividade, o desafio às estruturas sociais, além da pressão dos pares e da necessidade de aceitação. Os casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, tornam todo esse cenário ainda mais preocupante. Trata-se de um novo perigo, inclusive com risco de cegueira e morte, que se soma aos já tradicionais prejuízos à saúde advindos do consumo precoce de álcool”, disse.

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METANOL – As bebidas destiladas pelo seu teor alcoólico mais elevado (35% a 45%) tornam-se mais perigosas, podendo ter concentrações maiores de metanol. A suspeita, relacionada aos recentes casos verificados no País, é que os produtos foram importados ilegalmente. O metanol é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal. No fígado, é metabolizado para formaldeído e depois para ácido fórmico (ambos altamente tóxicos), sendo esse último o principal responsável pelos danos metabólicos e neurológicos.

Segundo a nota da SBP, a evolução dos sintomas de uma pessoa que ingere metanol pode variar de acordo com a quantidade ingerida ou até pela sensibilidade individual. No geral, a evolução acontece com as seguintes características:

Período inicial (até 12–24h): sintomas discretos ou ausentes. Pode haver sensação semelhante à ingestão de etanol, com leve tontura, náuseas. Nesta fase os sintomas se confundem com a clássica “ressaca”, tornando o diagnóstico precoce mais difícil e devemos chamar a atenção para sinais de acidose metabólica progressiva e qualquer sinal neurológico/visual. 

Início dos sintomas (12–24h após ingestão): os sintomas mais específicos aparecem de forma progressiva, com vômitos, dor abdominal, cefaleia intensa, tontura, fraqueza, visão turva, fotofobia, sensação de “enxergar nublado” (sinais iniciais e clássicos de lesão do nervo óptico);

Complicações graves (24–72h): a intoxicação evolui para acidose metabólica grave, que altera todo o equilíbrio do corpo, respiração acelerada e profunda, confusão mental, agitação que evolui para sonolência e até coma. Convulsões, arritmias, queda de pressão e choque podem ocorrer. A cegueira que se instala é irreversível devido à necrose do nervo óptico.

TRATAMENTO – Por se tratar de uma emergência médica, cada minuto faz diferença para reduzir o risco de cegueira irreversível e morte. Além do tratamento de suporte respiratório e cardiovascular, há a utilização de antídotos específicos, como o próprio etanol ou o Fomepizol (antídoto de escolha), na tentativa de inibir a metabolização do metanol nas formas tóxicas. Por fim, pode-se realizar hemodiálise nos casos graves.

A SBP esclarece que o contato com os Centros de Controle de Intoxicação (Ciatox) é fundamental para orientação na utilização dos antídotos e sua evolução, sendo recomendado em todos os casos. Sem tratamento adequado e precoce, há alta taxa de mortalidade por falência múltipla de órgãos. Mesmo sobrevivendo, muitas vítimas podem ficar cegas permanentemente ou com sequelas neurológicas (alterações na marcha, movimentos parkinsonianos, entre outros).

O Ministério da Saúde enviou, na última terça-feira (30), uma nota técnica a todos os estados e municípios, orientando que qualquer suspeita de intoxicação por metanol seja notificada imediatamente. O documento também traz diretrizes para que os serviços de saúde adotem a condução adequada dos casos e garantam a comunicação rápida das ocorrências.