Primeiro Fórum Regional da SBP reúne profissionais do Sudeste para discutir o espaço da Pediatria na Atenção Primária

No mês de agosto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) deu início a uma série de encontros para destacar a importância do pediatra nos diversos níveis de atenção à saúde, com foco especial para a Atenção Primária. Com o tema “Pediatra na Atenção Primária: qualidade desde o primeiro contato!”, os encontros reunirão, ao longo do segundo semestre de 2025, profissionais das cinco regiões do Brasil: Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul.

Iniciando pela Região Sudeste, o primeiro Fórum aconteceu em 27 de agosto, com a participação dos representantes das quatro filiadas: Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Sociedade de Pediatria do Espírito Santo (SOESP), Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) e Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

A pediatra mineira dra. Marisa Lages Ribeiro, membro da Diretoria de Integração Regional da SBP e coordenadora da região sudeste foi a moderadora do evento e Junto com os representantes da SMP, participaram presencialmente na sede da filiada mineira.

IMPORTÂNCIA DOS FÓRUNS

A abertura do encontro foi realizada pelo presidente da SBP, dr. Edson Ferreira Liberal, que destacou a importância dos Fóruns Regionais na luta por políticas públicas que incluam a Pediatria na Atenção Primária à Saúde (APS). Em seguida, dra. Marisa Lages, ressaltou o espaço de protagonismo do pediatra na APS: “O pediatra não irá só cuidar, ele acompanhará desde o pré-natal até o desenvolvimento pleno da criança e do adolescente. Então, o pediatra é, realmente, um Médico de Família, é a pessoa referência para toda a comunidade”, afirmou.

Ainda na abertura do evento, a diretora de Integração Regional da SBP, dra. Marynea Silva do Vale, destacou a importância dos Fóruns Regionais pensando na extensão e diversidade do território brasileiro. “Com os Fóruns, a gente busca reunir todas as regiões e criar um diálogo entre elas. Assim, teremos voz o suficiente para que as políticas públicas incluam a Pediatria na Atenção Primária, resultando na melhoria dos indicadores de saúde das crianças e adolescentes atendidos na Medicina de Família e Comunidade”, enfatizou.

MINAS GERAIS

Antes do início das apresentações, a presidente da SMP, dra. Raquel Gomes, destacou a sua afinidade com o tema proposto no Fórum: “Há mais de 20 anos, sou a única pediatra da cidade onde vivo, no Centro-Oeste mineiro. Eu vivo, experiencio e me preocupo tanto com a instalação quanto com a manutenção do profissional pediatra no interior brasileiro. É um problema complexo, multifatorial e que é real e presente”, comentou.

A mesa sobre o estado de Minas Gerais contou com a participação da vice-presidente da SMP, dra. Gabriela Araújo, e da Diretoria de Assuntos Profissionais, representada pelos drs. Ariete de Araújo e Marconi de Moura. Durante a mesa, Marconi trouxe dados da Associação Médica Brasileira (AMB) que contestam o senso comum que diz que “não há pediatras”. “Diante dos números, dizer que não há pediatras é apenas uma desculpa fácil. O que nós realmente temos que discutir é a falta de políticas públicas para crianças e adolescentes, que também resultam em condições assistenciais e vínculos profissionais precários”, enfatizou.

“Se não faltam pediatras, onde eles estão?”, esta foi a pergunta que a vice-presidente da SMP fez ao público presente. Há pediatras interessados em oferecer o melhor cuidado às nossas crianças, mas não em qualquer condição. Queremos uma condição digna de trabalho para que a gente consiga fazer o atendimento e acompanhamento da criança e da sua família da forma que merecem”, concluiu a profissional.

Por fim, Ariete acrescentou à discussão o tema da terceirização da saúde no estado de Minas Gerais. “Em vários municípios, a gente vê editais para concurso público com salários irrisórios. É inaceitável! Perante a ausência de inscrições para esses concursos abrem-se as portas para a terceirização da saúde. Diante disso, é uma luta diária colocar o pediatra na saúde pública”, disse.

ESPÍRITO SANTO

Na sequência, foi a vez da SOESP apresentar dados do estado através do relatório “Panorama da Pediatria na Rede de Atenção Primária em Saúde: Espírito Santo, 2025”. A presidente da SOESP, dra. Carolina Strauss Estevez Gadelha, mostrou que, dos 78 municípios do Espírito Santo, apenas 34 possuem profissionais pediatras vinculados à Atenção Primária à Saúde: “Isso significa que 56% de nossos municípios não têm pediatras vinculados à APS. E, dos pediatras que temos, grande parte deles estão na Região Metropolitana e Região Central, deixando os municípios do interior com um número muito menor”, falou.

A diretora de Cursos e Eventos Médicos da SOESP, dra. Roberta Paranhos Fragoso, destacou a importância de buscar estratégias que deem acesso à saúde para crianças e jovens: “A gente sabe que a Atenção Primária é a base de um sistema acessível à saúde. No município de Vitória, onde atuo há quase 30 anos, o que a gente mais tem observado é a terceirização da saúde e do acesso à saúde”, afirmou. Na sequência, Roberta mostrou que, no Espírito Santo, o número de óbitos fetais por causas evitáveis vem crescendo, principalmente no período pré-natal e também perinatal.

Encerrando a apresentação, o 2º Secretário e Assessor da SOESP, dr. Rodrigo Aboudib Pinto Ferreira, destacou as diversas ações da SBP - como a Coalizão Licença Paternidade (CoPai) e a Família em Pauta - que, cada vez mais, vinculam a instituição à luta pelas famílias, crianças, adolescentes e pela defesa profissional: “É importante que nós, enquanto SBP, estejamos em condições de oferecer informações adequadas às famílias brasileiras”, reiterou.

RIO DE JANEIRO

A diretora de Ética e Valorização Profissional da SOPERJ, dra. Ariane Molinaro Vaz de Souza, apresentou alguns dados sobre o estado do Rio de Janeiro, além de uma pesquisa sobre a SOPERJ, realizada de janeiro a agosto deste ano pela nova diretoria da entidade. A pesquisa mostra que, dos 2996 profissionais cadastrados na instituição, 34% estão inadimplentes. Através do estudo, concluiu-se que esse número corresponde aos profissionais mais jovens e com menos tempo de formados. Além disso, estão com maior frequência no interior do estado e possuem formação e titulação semelhantes ao público adimplente.

Em relação à atenção básica no estado do Rio de Janeiro, Ariane pontuou que a estratégia de Saúde da Família não prevê o pediatra na equipe. Por isso, a SOPERJ vem se aproximando da Secretaria Estadual de Saúde (SES), através de reuniões que construam uma agenda única de ações para implantação de políticas públicas e treinamentos conjuntos.

Ao final, a vice-presidente da SOPERJ, dra. Patrícia Fernandes Barreto M. Costa, destacou que, desde o início de sua gestão, a instituição está preocupada em conhecer e entender o pediatra que atua no Rio de Janeiro e que, ao longo dos anos e por diferentes motivos, se afastou da vida associativa: “A gente tem que buscar e resgatar esse colega para, assim, aumentarmos a nossa força diante das nossas reivindicações”, disse.

SÃO PAULO

O presidente da SPSP, dr. Sulim Abramovici, iniciou sua fala afirmando que, há muito tempo, a instituição já se preocupa com o direito ao atendimento pediátrico na atenção primária. Além disso, destacou que o Brasil tem um desenvolvimento científico de excelência em Pediatria, com amplo reconhecimento na comunidade científica mundial. Além disso, os pediatras trabalham em diferentes contextos que incluem todos os níveis de atenção do sistema de saúde, desde o primeiro nível até os mais específicos ou de maior complexidade: “Por isso, o pediatra deve ser o médico da atenção primária e de referência na assistência aos recém-nascidos, lactentes, crianças e adolescentes. A sociedade precisa entender a nossa importância na saúde primária”, enfatizou.

Mesmo com profissionais qualificados e capacitados, o presidente da SPSP afirmou que a presença de pediatras no SUS ainda é baixa, trazendo desdobramentos visíveis nos indicadores de morbidade e de mortalidade na infância e adolescência, além de prejudicar no desenvolvimento cognitivo e comportamental nas diferentes etapas da vida da criança.

O Diretor Executivo de Defesa Profissional da SPSP, dr. Paulo Tadeu Falanghe, deu sequência destacando que os dados apresentados no Fórum pelas filiadas da SBP na Região Sudeste devem seguir adiante: “Nós, profissionais, já sabemos da importância do pediatra. Esses dados têm que ser repassados à sociedade. A partir deste Fórum, devemos organizar movimentos coordenados, em todas as regiões e estados, para ver para onde temos que levar essas informações. Essa luta não pode ficar só no campo da exposição, ela precisa ser judicializada”, finalizou.

ENCERRAMENTO

Ao final do encontro, houve um espaço de discussão realizado pelos convidados e pelos representantes das filiadas da SBP.

Após as discussões, a Diretora de Integração Regional da SBP, dra. Marynea Silva do Vale, destacou a riqueza resultante do Fórum: “Agora é unir tudo que foi falado em um documento e seguir em frente adiantem busca de resultados, e não restringirmos a nossa fala somente aos pediatras.”

Como presidente da SBP, dr. Edson Liberal também destacou a qualidade e a importância do Fórum e das apresentações: “Além do movimento nacional da SBP, todos os movimentos regionais aqui apresentados devem seguir adiante. Temos que atuar de forma conjunta e simultânea, para termos ainda mais força”, finalizou.

PRÓXIMAS EDIÇÕES A programação dos Fóruns Regionais contemplará ainda outras três datas: 23 de setembro (Região Norte), 6 de outubro (Região Centro-Oeste), 14 de outubro (Região Sul) e 3 de novembro (Região Nordeste). Os encontros são abertos a todos. Para mais informações, acesse o site da SBP.