SBP alerta para erros em orientações de primeiros socorros em casos de engasgo infantil

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um Guia Prático para esclarecer como agir corretamente em casos de engasgo em crianças e alertar sobre erros comuns, especialmente nas orientações que circulam pela internet. O documento explica as diferenças entre as condutas para engasgo por líquidos – como leite materno, sucos ou saliva – e por sólidos ou semissólidos, como alimentos e pequenos objetos.

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Segundo a SBP, confundir essas situações pode levar a manobras inadequadas, capazes de agravar o quadro. Elaborado pelo Curso de Suporte Básico de Vida da entidade, o guia detalha os procedimentos seguros para cada caso e busca orientar pais, cuidadores e profissionais de saúde.

Engasgo por líquidos

A SBP destaca que o engasgo por líquidos costuma estar relacionado a reflexos normais de proteção da via aérea, especialmente nos bebês pequenos, que ainda estão em fase de desenvolvimento da deglutição. Em geral, esses episódios não causam obstrução completa das vias aéreas, sendo resolvidos com medidas simples como posicionar o bebê adequadamente, permitindo-o tossir espontaneamente.

Desta forma, a maneira mais correta de lidar com o engasgo por líquidos é:

1 - Posicionar a criança sentada ou semissentada;

2 - Remover o excesso de líquido da boca com um lenço ou pano limpo;

3 - Observar atentamente a resposta.

Se a criança tossir ou vomitar e logo voltar a respirar normalmente, a SBP recomenda apenas oferecer apoio e continuar observando. Mas caso permaneça com sintomas como dificuldade para respirar, chiado ou desconforto, é necessário levá-la a um serviço de emergência. 

Se a criança não melhorar e houver interrupção da respiração, deve-se estimular delicadamente a região das costas. No entanto, se ela não retomar a respiração e perder a consciência, é fundamental chamar ajuda imediatamente e já iniciar as manobras de reanimação cardiorrespiratória.

Engasgo por sólidos ou semissólidos com obstrução completa

Conforme destaca o Guia Prático da SBP, o mais importante no momento do engasgo por sólidos ou semissólidos é identificar se a criança apresenta uma obstrução completa das vias aéreas. Ou seja, se ela apresenta dificuldade para falar ou tossir, respiração ruidosa, palidez, agitação ou leva as mãos em volta do pescoço. Caso a resposta seja positiva, deve-se tentar o desalojamento usando manobras de desengasgo com pancadas nas costas e compressões torácicas em crianças até um ano de idade e a manobra de Heimlich em crianças maiores de um ano de idade.

Menores de um ano – O ideal é posicionar a vítima no antebraço de quem prestará a assistência, com a mão segurando a face do bebê, para permitir a abertura da via aérea, deixando a cabeça mais baixa que o corpo. O adulto deve realizar cinco pancadas no dorso, usando a região do “calcanhar da mão”. Logo após, deve levar o bebê para o outro antebraço (deitado de costas) e fazer cinco compressões torácicas, utilizando dois dedos (indicador e médio) logo abaixo da linha mamilar. Após cada ciclo (cinco pancadas e cinco compressões), deve-se verificar se houve desobstrução das vias aéreas. Se ele voltou a respirar ou expeliu o corpo estranho, leve-o até o pronto socorro. Se houver perda da consciência, acionar imediatamente o serviço de emergência e iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar.

Maiores de um ano – Para crianças maiores, é indicado executar a manobra de Heimlich. O socorrista se posiciona de pé, atrás da vítima, com os braços por trás dos braços da vítima, circundando sua cintura, de modo a manter uma das mãos fechadas e a outra espalmada sobre ela, centralmente no abdômen, entre o umbigo e o apêndice xifoide. Aplicar compressões firmes para dentro e para cima até que a vítima respire ou ejete o corpo estranho. Caso haja perda de consciência, seguem as mesmas orientações dos menores de um ano: acionar imediatamente o serviço de emergência e iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar.

Engasgo por sólidos ou semissólidos com obstrução parcial

Nos episódios de obstruções parciais, ou seja, quando a criança consegue falar ou tossir, as manobras de desengasgo não estão indicadas pelo risco de deslocar o corpo estranho, causando uma obstrução completa. Pelo mesmo motivo, não se deve realizar varredura às cegas da boca ou garganta. Na criança com obstrução incompleta ou parcial, deve-se estimular a tosse e, caso a tosse se torne inefetiva, desferir pancadas leves no dorso da vítima antes de iniciar as manobras de desobstrução. 

A SBP finaliza enfatizando que toda criança submetida às manobras de desengasgo deve ser encaminhada para exame médico e de imagem para observar possíveis lesões traumáticas. “A orientação também se aplica aos pacientes com suspeita de aspiração de corpo estranho com sintomas, mas estáveis. Eles devem ser encaminhados a um serviço hospitalar para ser realizada radiografia simples do tórax”.