A degradação ambiental global tem mostrado efeitos alarmantes, com o ano de 2024 sendo registrado como o mais quente dos últimos 175 anos, com uma temperatura de 1,55°C ± 0,13°C acima da média. Esse aumento segue uma tendência observada nos últimos dez anos, em que cada novo ano foi o mais quente da história. Em resposta a esse cenário, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um documento científico que apresenta dados preocupantes sobre os impactos ambientais na saúde da população, especialmente de crianças e adolescentes.
“Ocorreram inúmeras ondas de calor significativas em 2024, muitas com períodos prolongados de altas temperaturas e recordes quebrados. No entanto, por vezes, os impactos do calor extremo são subestimados, sendo que a mortalidade relacionada pode ser muitas vezes maior do que as estimativas apontam”.
Já a perda de massa glacial entre os períodos de 2021 a 2024 apresentou o balanço mais negativo já verificado. De acordo com observações de satélites, a extensão de gelo marinho do Ártico também tem atingido marcas mínimas, ano após ano, desde 2006. Além disso, a qualidade do ar é considerada ideal em apenas 17% das cidades do mundo. Segundo a diretriz de poluição atmosférica da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 73ª posição na classificação geral. A cidade de São Paulo está na categoria que excede entre três e cinco vezes o limite recomendado.
A publicação da SBP, elaborada pelo Grupo de Trabalho “Saúde Planetária – Saúde Única”, tem como base três estudos internacionais: o 7º Relatório Anual de Qualidade do Ar Mundial, publicado pela IQAir; o Estado do Clima Global 2024, publicado pela Organização Mundial de Meteorologia; e Relatório “Learning interrupted: Global snapshot of climate-related school disruptions in 2024”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
EFEITOS IMEDIATOS – Segundo o UNICEF, os eventos climáticos extremos estão interrompendo a educação de crianças e adolescentes, colocando sua aprendizagem e seu futuro em risco. A análise revela que, em 2024, cerca de 242 milhões de estudantes em 85 países ou territórios tiveram suas aulas interrompidas por eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor, ciclones tropicais, tempestades, inundações e secas, agravando uma crise de aprendizagem já existente. O número de alunos afetados equivale a pelo menos um em cada sete estudantes.
Há consenso entre os cientistas de que esses fenômenos serão cada vez mais frequentes e intensos, exigindo respostas imediatas em iniciativas para minimizar os impactos. Conforme ressalta o diretor científico da SBP, dr. Dirceu Solé, a adoção de medidas sustentáveis é indispensável para melhorar a qualidade de vida da população pediátrica e fortalecer a prevenção de doenças.
“Pequenas ações, quando replicadas em rede, têm o poder de promover grandes mudanças. A resposta às mudanças climáticas exige políticas públicas baseadas em ciência, com atuação intersetorial e foco na equidade. O setor saúde deve liderar e apoiar essas transformações, protegendo a população e promovendo um futuro mais saudável e sustentável”, afirma.
O documento traz ainda uma série de recomendações para a redução do impacto das mudanças climáticas à saúde. Segundo o texto, é necessário estabelecer planos de ação para o controle de exacerbações de doenças crônicas em ambientes poluídos e durante catástrofes ambientais. Algumas das orientações gerais aos pacientes incluem:
• Em dias de maior concentração de fumaça, evitar atividades físicas ao ar livre;
• Manter portas e janelas fechadas durante eventos de queimadas ou de incêndios florestais para evitar a entrada de fumaça.
• Evitar o uso de pesticidas dispersíveis no interior da residência;
• Usar purificadores de ar com filtros HEPA (High Efficiency Particulate Arrestance);
• Evitar exposição ao cigarro e outros poluentes intradomiciliares, como excesso de produtos de limpeza com perfumes e substâncias químicas;
• Evitar acender velas e incensos;
• Incentivar a hidratação, estimular a ingestão de água potável e ter uma alimentação saudável com consumo de frutas, hortaliças, legumes oriundos de uma agricultura sustentável;
· Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados para não agravar as condições deletérias de saúde.
Em catástrofes:
• Se tiver tempo hábil por avisos da Defesa Civil, antes do desastre ambiental, preparar kits com água potável, roupas, remédios, lanternas e pilhas, e guardar documentos em sacos plásticos;
• Aparelhos elétricos durante inundações devem ser desligados, bem como o disjuntor geral do quadro de energia;
• Não usar equipamentos elétricos que foram atingidos por inundações.
• Alimentos e bebidas que tiveram contato com águas de enchentes devem ser descartados, não utilizar água de fontes naturais ou poços em locais de inundação;
• Após enchentes, cuidados com a contaminação por fungos, toxinas de bactérias, poluentes de materiais de construção de ambientes domiciliares, verificar as orientações da Defesa Civil para retorno com segurança ao domicílio após inundações.
Além disso, o texto traz sugestões de políticas públicas para a redução do impacto ambiental e da poluição, principalmente: a identificação de zonas de risco sujeitas a desastres naturais; o aprimoramento de sistemas de alertas meteorológicos e monitorização por satélites; o estímulo ao uso de energias limpas; o gerenciamento adequado de resíduos e do descarte de lixos, evitando contaminações ambientais e riscos ocupacionais; estimular o reflorestamento e a agricultura sustentável; realizar o saneamento básico e obras de escoamento para a gestão de águas; proibir construções em áreas de risco de desastres ambientais; entre outros.
Nova edição do JPed aborda a relação entre as mudanças climáticas...
02/05/2025 , 14:39DC de Imunologia Clínica da SBP publica série de vídeos sobre Err...
02/05/2025 , 14:37Dermaped 2025: Vai até 6 de junho prazo para envio de trabalhos c...
02/05/2025 , 14:16GT de Países de Língua Portuguesa promove segunda live sobre emer...
02/05/2025 , 13:57Diretor científico da SBP é homenageado pela Unifesp
30/04/2025 , 16:56Como estão emocionalmente os nossos adolescentes? Alerta aos Pedi...
29/04/2025 , 14:56