Primeiro estudo que avalia desnutrição em crianças hospitalizadas também revela que 16,3% já chegam desnutridas ao hospital
Marcelo Justo/Folha Imagem
Nutricionista do Hospital A. C. Camargo ensina a fazer lasanha de abobrinha em oficina
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um quinto das crianças com menos de cinco anos internadas em hospitais ligados a universidades perdem peso em sete dias. Isso é o que revela o primeiro estudo brasileiro sobre a prevalência de desnutrição infantil nessas instituições.
O estudo, conduzido por um grupo de trabalho que incluiu profissionais de várias instituições, como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Pan-Americana da Saúde, foi publicado na última edição do “Jornal de Pediatria”.
Encerrada em 2007, a pesquisa avaliou dez hospitais universitários em nove capitais. Foram incluídas todas as crianças admitidas nas instituições durante três meses, totalizando quase mil pacientes.
“Esses dados ainda refletem a realidade, pois não houve ações específicas para corrigir o problema e não há motivos para achar que algo mudou”, diz Roseli Sarni, presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma das autoras do trabalho.
Os pesquisadores constataram que 20% das crianças perderam mais do que 2% do peso corporal durante uma semana no hospital. “Esse valor é extremamente preocupante e pode colocá-las em risco nutricional”, afirma Sarni.
A chance de perder peso durante uma internação é grande, pois o paciente já chega debilitado pela doença, muitas vezes tem falta de apetite e precisa ficar em jejum para passar por exames e procedimentos.
“Não deveria haver perda de peso e esse é o foco de nosso trabalho”, explica José Spolidoro, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral. Para evitar o problema, há vários recursos, como terapia via oral, com suplementos especiais, ou até, em alguns casos, nutrição por sonda.
“Muitas vezes os médicos ficam focados em tratar a doença e se esquecem da questão nutricional”, diz Spolidoro.
Embora todos os hospitais tenham equipes de terapia nutricional, apenas 7% dos pacientes foram submetidos à terapia adequada, seguindo padrões preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo próprio Ministério da Saúde. Normalmente, cerca de 20% dos pacientes internados precisam desse tipo de intervenção.
“Não há educação dos profissionais de saúde para esse diagnóstico nem acompanhamento”, diz o nutrólogo Celso Cukier, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, que coordena equipes de terapia nutricional em hospitais como São Luiz, Hospital do Coração e Dante Pazzanese, em São Paulo.
Uma das causas da má nutrição nos hospitais pesquisados foi o uso de leite de vaca integral em bebês, em substituição às fórmulas ou ao leite materno: 36% dos menores de seis meses e 67,8% das crianças entre seis e 12 meses ingeriam esse alimento, inadequado para essa faixa etária por conter proteínas e sódio que podem levar à desidratação.
Falta de diagnóstico
Outro problema constatado pela pesquisa foi que poucos hospitais avaliaram, de forma rotineira, peso e estatura das crianças admitidas. Apenas 56,7% delas tinham classificação do estado nutricional registrada em prontuário.
A avaliação dos pesquisadores constatou que 16,3% das crianças monitoradas chegou com desnutrição moderada ou grave ao hospital. No entanto, nenhuma delas foi internada por causa da desnutrição. A maioria procurou o serviço com pneumonia ou diarreia.
Segundo Sarni, falta treinamento dos profissionais, tanto dos médicos como das equipes de nutrição, e, em alguns casos, até mesmo equipamentos básicos como réguas e balanças.
O Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição.
Família deve acompanhar alimentação
DA REPORTAGEM LOCAL
O acompanhamento da família durante a internação da criança é fundamental para prevenir casos de desnutrição.
O nutrólogo Ari Lopes, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, sugere que os familiares cobrem os especialistas para que seja feita uma orientação nutricional adequada desde o início da internação e que haja um planejamento dos jejuns necessários para procedimentos e exames.
“É preciso verificar o que estão fazendo para corrigir o estado nutricional do filho. Perguntar: o que estão oferecendo? Para que a dieta serve? Isso, de certa forma, exige da equipe que avalie melhor.”
Em alguns casos, a criança também chega ao hospital com hábitos alimentares ruins, o que também pode favorecer uma desnutrição. “Quando observamos isso, tentamos mostrar à criança maior ou aos pais de crianças pequenas a importância dos grupos alimentares”, afirma a nutricionista Adriane Marchisete, do Hospital Infantil Sabará.
Para Ari Lopes, a desnutrição pode trazer riscos tão graves quanto uma infecção. “A criança já tem uma doença crônica, então as chances de complicações são maiores com um quadro de desnutrição”, alerta.
foco
Hospitais dão oficinas de culinária para pacientes de câncer e acompanhantes
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Pacientes com câncer podem sofrer dificuldades para se alimentar. Falta de apetite, alterações no paladar, náuseas e feridas na boca são alguns problemas que podem aparecer, dependendo do tipo de tumor e de tratamento. Para resgatar um pouco do prazer nas refeições, dois hospitais oncológicos de São Paulo passaram a oferecer oficinas gratuitas de culinária.
No Hospital A. C. Camargo, as aulas, mensais, são oferecidas desde março, voltadas para pacientes, cuidadores e pessoas da comunidade. Sopas, ervas e aproveitamento integral dos alimentos foram temas abordados.
“O paciente costuma se preocupar com o que poderá comer após receber alta. A ideia das oficinas é que ele leve para casa o prazer da mesa”, diz Mônica Lameza, responsável pelo Departamento de Nutrição do hospital.
Além de observar a preparação de pratos, os participantes podem degustá-los e recebem mais receitas. Informações no site hcanc.org.br, link “informações ao paciente”, ou pelo tel. 0/ xx/11/ 2189-5015). O A. C. Camargo quer oferecer, no início de 2010, oficinas de culinária para as crianças internadas.
Desde maio, o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) também oferece, em sua cozinha experimental, aulas de culinária mensais, voltadas para acompanhantes dos pacientes.
Segundo Suzana Camacho Lima, gerente de nutrição do Icesp, o estado nutricional adequado traz melhor resultado no tratamento. “A ideia é capacitar os cuidadores para que cuidem do paciente e também de si mesmos, prevenindo o câncer. Em vez de fazer só educação nutricional, selecionamos receitas e mostramos como prepará-las.”
Leite fortificado, comidas de festa junina e sopas foram temas das oficinas. Os ingredientes são escolhidos de acordo com suas propriedades funcionais, e as preparações levam em conta as limitações de alguns pacientes, como desnutrição e dificuldade para comer alimentos duros. “Ensinamos a enriquecer o leite integral com leite em pó, para aumentar as calorias, e trouxemos receitas de um doce pastoso, mais fácil de deglutir, e de quentão sem álcool, para as festas juninas”, exemplifica Lima.
No material de apoio recebido, ficam disponíveis as receitas e as propriedades funcionais do prato. Também há degustação.
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