Congresso de Pediatria indica problemas na rede de saúde pública que ameaçam assistência de crianças e adolescentes no Centro-Oeste


A precariedade da assistência pediátrica na região Centro-Oeste, que diariamente impacta mais de 4,5 milhões de crianças e adolescentes, esteve em pauta na conferência de abertura do IV Congresso de Atualização em Pediatria do Centro-Oeste (Capco). O evento, que teve início ontem (22), abordará entre outros assuntos os atuais problemas que comprometem o atendimento da população pediátrica nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

De acordo com a presidente do Congresso, dra. Natasha Slhessarenko, a falta de leitos de internação, de UTIs pediátricas e neonatais corresponde a um dos principais entraves vivenciados pelos pacientes. Segundo os dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), responsável pela promoção do evento, entre os anos de 2010 e 2016, mais de 600 leitos destinados à população infanto-juvenil foram fechados na região.

A situação é ainda mais alarmante para as famílias que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). No mesmo período, 17% de todas as vagas existentes na rede pública foram encerradas. “As crianças que apresentam quadros clínicos graves ou que necessitam de observação têm extrema dificuldade para encontrar um leito de internação nos hospitais públicos. Infelizmente, a falta de planejamento e de gestão estratégica vem colocando em risco a vida de milhares de crianças”, afirmou a pediatra.

Outro problema preocupante em destaque nos debates do Congresso será a carência de hospitais pediátricos nos estados do Centro-Oeste. A superlotação de crianças em emergências, postos de saúde e policlínicas ocorre justamente em função da ausência de unidades específicas para o acompanhamento dessa população, na avaliação do presidente da Sociedade Matogrossense de Pediatria (SOMAPE), dr. Rubem Couto.

PEDIATRAS NO SUS – Somado à falta de infraestrutura, também prejudica a assistência da região o baixo número de pediatras disponíveis no SUS. Os cerca de 3.400 especialistas da região encontram muita dificuldade em trabalhar no setor público devido à ausência de políticas de cargos e salários.

“Atualmente, existe uma defasagem exorbitante nos valores pagos pelo SUS. Além de mal remunerado, na maioria das vezes, o pediatra não possui condições adequadas para realizar seu trabalho. Faltam medicamentos, equipamentos para diagnóstico e até mesmo vacinas. A campanha de imunização contra o vírus da gripe (Influenza), por exemplo, está paralisada em vários postos, pois os lotes encaminhados não foram suficientes para suprir a demanda”, alerta o dr. Rubem Couto.

Como consequência direta, o atendimento de crianças e adolescentes tem sido negligenciado a médicos de outras especialidades, o que configura uma problemática situação, visto que o profissional mais capacitado para examinar pacientes de zero a 19 anos de idade é o pediatra. “A atenção primária deveria obrigatoriamente dar ênfase à pediatria. O acompanhamento periódico, através de consultas de puericultura, influência na prevenção de agravos no presente e melhora os índices de saúde da população em geral no futuro. Infelizmente, grande parte das clínicas da família não contam a especialidade, fazendo com que as crianças somente cheguem ao médico quando já estão doentes”, esclarece.