Em Brasília, representantes da SBP acompanham fórum que discute a qualificação do docente na medicina

Ocorreu na manhã da última quinta-feira (16), em Brasília, o IX Fórum Nacional de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM), que debateu a qualificação dos professores das faculdades de medicina. Na abertura, o presidente do CFM, dr Carlos Vital, ressaltou a importância de se debater a formação dos docentes como forma de melhorar o ensino médico. “O país está atravessando uma situação difícil, mas podemos, juntos, com planejamento e vontade política, melhorar a qualidade do aparelho formador do ensino médico”, afirmou.

Também presente na mesa de abertura, o coordenador da Comissão de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM), dr Lúcio Flávio Gonzaga Silva, usou uma passagem do livro Alice no País da Maravilha. No texto, a personagem pergunta ao gato Cheshire qual o melhor caminho a seguir e ele responde: “você deve saber para onde quer ir, caso contrário não chegará a lugar nenhum”.

Na avaliação de dr Lúcio Flávio, “o mesmo se aplica às escolas médicas. Se não tivermos clareza para onde queremos ir, corremos o risco de chegarmos a um lugar indesejado. O problema é que entregaremos para a sociedade um médico malformado, o que constitui um grande risco para a sociedade”, argumentou.

PARTICIPAÇÃO DOS PEDIATRAS - O 2º-vice-presidente e o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Pediatria, respectivamente, dr Edson Liberal e dr Sidnei Ferreira, acompanharam todos os debates desenrolados ao longo dia. Vários pediatras de Mato Grosso, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Paraíba, entre outros estados também estiveram presentes ao encontro, cujo objetivo é discutir a importância e os caminhos adequados para a formação e a qualificação do docente em medicina.

Durante o IX Fórum de Ensino Médico, foi lançado o segundo número do “Caderno de Educação Médica – Formação em medicina no Brasil: cenários de prática, graduação, residência médica, especialização e revalidação de diplomas”, que faz um resumo dos debates realizados no VIII Fórum de Ensino Médico, promovido em setembro do ano passado. O caderno, que foi elaborado pela equipe de relatores do VIII Fórum de Ensino Médico e organizado pela professora dra Hermila Tavares Vilar Guedes, está dividido em três eixos: proliferação indiscriminada das faculdades de medicina, residência médica e revalidação de diplomas.

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PROGRAMAÇÃO – Nos dois dias do IX Fórum, serão realizados painéis e grupos de trabalho, que vão debater os problemas na formação dos docentes e propor soluções. Na manhã desta quinta-feira foram realizados painéis sobre temas como “Competência para a docência”, “Avaliação para a docência”, “A gestão acadêmica e programas de desenvolvimento docente” e “Mérito Acadêmico”, além de uma conferência do ex-reitor da Universidade Federal do Ceará, dr Jesualdo Pereira Farias.

A professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFRJ, dra Eliana Cláudia Ribeiro, falou sobre competência para a docência. Em sua palestra, argumentou que existem dois tipos de docência, uma abordagem atomista, baseada em conhecimentos que o aluno deve assimilar e acumular, e outra holística, preocupada nas competências profissionais. “Nesta visão, a pessoa deve ter a capacidade de mobilizar os conhecimentos adquiridos e aplicá-los em situações concretas”, explicou dra Eliana, que defende um ensino médico holístico, baseado na aquisição não-linear de conhecimentos.

O professor da Unifesp dr Nildo Alves Batista, que falou sobre avaliação para a docência, defendeu um envolvimento maior dos professores, “que muitas vezes não conhecem o projeto pedagógico da instituição em que estão inseridos”. Para dr Batista, a docência tem uma função muito ampla “somos facilitadores, assessores, planejadores, provedores de informações e, principalmente modelos para nossos alunos”.

INCENTIVO AOS GRADUANDOS - As dificuldades para encontrar professores para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Rondônia (Unir) foram destacadas pela professora dessa faculdade, dra Ana Lúcia Escobar, responsável pelo painel “Gestão Acadêmica e Programas de Desenvolvimento Docente”. “A forma que estamos encontrando para superar este problema é incentivando os atuais graduandos para que eles depois voltem para a instituição como professores”, contou. Outro desafio é a formação do professor. “O problema é que a Lei de Diretrizes Orçamentárias não prevê a adoção da formação didático-pedagógica como pré-requisito para acesso e progressão na carreira e os professores se negam a participar dos cursos de aperfeiçoamento”, argumentou.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), dr José Sebastião dos Santos, responsável pelo painel sobre mérito acadêmico, relatou que a sua instituição também enfrenta dificuldades para atrair professores, principalmente com dedicação exclusiva. “Tivemos vários editais desertos”, enumerou. Em sua fala, ele explicou quais são os critérios para a progressão na carreira na FMUSP. “Depois de um grande trabalho de convencimento, conseguimos que fosse aceito o nosso argumento de que deveriam existir critérios diferentes, pois os critérios de produtividade de um professor que trabalha com ciência básica e outro que está no centro cirúrgico são diferentes”, explicou.

ESTRANGEIROS - Os painéis foram seguidos pela apresentação de uma conferência do ex-reitor da UFC, dr Jesualdo Pereira Farias, que falou sobre o tema “Docente de hoje e visão do futuro”. Ele criticou marcos regulatórios que impedem a inovação e avanços em sala de aula, como o impedimento de que professores estrangeiros atuem em mais de uma universidade e as barreiras ao uso do ensino à distância. Também defendeu mudanças no ensino. "O professor não deve se ater apenas ao ensino. Não adianta apenas ensinar conteúdo ao aluno. É preciso que ele desenvolva habilidades como criatividade e flexibilidade", defendeu.

Amanhã (17), as atividades começarão com a conferência “Desenvolvimento do Projeto Sistema de Acreditação das Escolas Médicas (Saeme) ”, apresentada pelo coordenador executivo do projeto e professor da USP, dr Milton de Arruda Martins. Em seguida, secretária-executiva do Saeme, dra Patrícia Zen Tempski, vai apresentar os dados atuais do projeto. As propostas aprovadas nos grupos de trabalho, a serem apresentadas pelos coordenadores desses grupos a partir das 10h, vão subsidiar encaminhamentos do Conselho Federal de Medicina (CFM) para a melhoria do ensino médico. O produto final do IX Fórum será a elaboração do III Caderno de Ensino Médico do CFM.