Um trabalho diferenciado realizado pelos agentes de saúde de Fortaleza (CE) mudou o cenário da cobertura vacinal contra o sarampo. A missão da equipe é garantir que as crianças acompanhadas por eles recebam a vacina. O trabalho é feito a partir de levantamento mensal nos postos de saúde. Após a identificação de quem está com as doses atrasadas, o agente bate na porta e pede que os pais levem os filhos para serem imunizados. Quando o alerta não é suficiente, uma enfermeira leva a vacina até a casa.
De 2013 a 2015, Fortaleza enfrentou um surto de sarampo, com 395 casos. Pegos de surpresa em meio a uma crise de saúde no estado, pacientes chegaram a ser atendidos no chão dos hospitais. Hoje, enquanto o Brasil vê o reaparecimento da doença, ela é considerada erradicada na capital cearense, um exemplo em vacinação no país.
Após o surto, Fortaleza adotou políticas para reforçar a imunização, sendo o cadastro nominal e a extensão dos horários de atendimento nos postos de saúde as principais. O cadastro passou a ser usado em 2017. Antes dele, a contagem era apenas numérica, feita em planilhas preenchidas a mão. Se uma criança deixava de tomar uma dose, os agentes não sabiam quem ela era, apenas a idade e as vacinas tomadas. Agora, é possível saber quem deixa de tomar uma vacina e onde mora.
Um sistema nominal semelhante, o SI-PNI, do Ministério da Saúde, é usado em 67% das salas de vacinação do País, segundo o Programa Nacional de Imunização. Há, porém, problemas de implantação e acesso à rede que dificultam sua utilização. “Tínhamos receio de mudar o sistema que era utilizado há anos, mas deu muito certo”, diz a coordenadora de imunização de Fortaleza, Vanessa Soldatelli. Quando foi implantado, todas as equipes foram treinadas e se mantiveram em contato pelo WhatsApp para ajudar nas dúvidas.
DIFERENCIAL – Os horários de vacinação estendidos foram implantados em 2013, e a Secretaria acredita que essa seja a principal política responsável pelos bons resultados. Os 110 postos funcionam de 7h30 às 18h30, o que facilita a ida dos adultos. Fortaleza tem dois postos que fecham só duas vezes por ano. Também estão entre as estratégias convênios com creches e escolas e o reforço da comunicação nas campanhas.
O Ministério da Saúde recomenda para todos os municípios que adotem o cadastro nominal e a extensão do horário de atendimento para reverter a tendência de queda da vacinação no país. Segundo a pasta, o município cumpre não só as metas de vacinação para sarampo, mas todas as metas estabelecidas pelo órgão. Fortaleza aparece como a capital mais bem posicionada do Brasil em termos de cobertura vacinal.
Apesar da cobertura satisfatória, Fortaleza ainda permanece alerta, já que passou a utilizar o sistema nominal online só no ano passado e ainda precisa concluir a transferência de dados de 10% das cadernetas de vacinação de papel.
Segundo a coordenadora de imunização de Fortaleza, o trabalho é grande e as equipes acabam sobrecarregadas. Além disso, o “resgate das cadernetas” depende de que as agentes tenham acesso à internet, o que nem sempre é possível no momento da coleta das informações.
Mesmo com essas dificuldades, o caso de Fortaleza é considerado exemplo para outros municípios. “Eles viveram um susto, ou melhor, uma triste realidade, mas levantaram, sacudiram a poeira e deram a volta por cima”, diz a presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, dra. Isabella Ballalai.
NOVOS SURTOS – Atualmente, os estados do Amazonas e Roraima enfrentam surtos de sarampo, com 444 e 216 casos confirmados até meados de julho, respectivamente. Ambos os estados ficaram abaixo da meta de 95% em 2016 e 2017.
Dados do ministério apontam que a cobertura nacional da vacinação contra o sarampo relativa a 2017 está em 84,9% na tríplice viral, que deve ser aplicada aos 12 meses, e de 71,5% na tetra viral, aos 15 meses. Também houve casos em São Paulo, Rondônia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Também houve queda na cobertura de outras vacinas obrigatórias para bebês e crianças, segundo os dados oficiais. Um em cada quatro municípios estão abaixo da meta do ministério, de 90% para contra gastroenterite e tuberculose e 95% para as outras doenças, incluindo sarampo.
Os números abaixo da meta são preocupantes, porque aumentam o risco de áreas com muitas pessoas não imunizadas. Nesses casos, uma única pessoa contaminada pode espalhar o vírus rapidamente, o que pode permitir a volta de doenças já erradicadas.
MAIS QUE UM PALPITE – Especialistas atribuem a atual queda ao baixo temor em relação a doenças já erradicadas. Entre os mais ricos, começam a surgir alguns movimentos antivacina, ainda que pouco expressivos nas estatísticas. “Frente ao cenário atual de baixas coberturas vacinais, as informações de baixa cobertura e o risco iminente de volta dessas doenças faz com que seja preciso que todos os profissionais de saúde tenham uma atitude melhor no combate ao controle dessas doenças por meio da imunização”, destacou o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Renato Kfouri.
Para o especialista, outro fator preocupante é a quantidade de informações sem fundamento espalhadas por redes sociais, o que levou a SBP a lançar a campanha #maisqueumpalpite. “Hoje, com a força das redes sociais, qualquer boato se espalha rapidamente. E, no campo da imunização, esse fenômeno se destaca ainda mais. É uma área que acaba sendo bastante impactada nesses tempos de fake news“, ressaltou.
Com informações da Folha de São Paulo e da Agência Resposta
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