Guia de atualização, preparado pelo DC de Hepatologia, ajuda pediatras no diagnóstico precoce da colestase em lactentes


Como instrumento de atualização dos pediatras, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio de seu Departamento Científico de Hepatologia, divulgou o Guia Prático de Atualização - Colestase em lactentes: um tema do pediatra. O trabalho tem como objetivo principal oferecer aos profissionais subsídios suficientes para o diagnóstico precoce desse transtorno.

“Com a evolução dos conhecimentos médicos, houve a necessidade de criar as áreas de atuação em Pediatria, para que as crianças e os adolescentes com doenças de maior complexidade pudessem receber a assistência adequada. Entretanto, não podemos perder a visão de que “a criança é uma só” e necessita ser avaliada com uma visão global, onde o Pediatra tem papel fundamental”, lembra o texto.

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CONHECIMENTOS - Com a ajuda do Guia, o pediatra será capaz de divulgar os conhecimentos relacionados à colestase neonatal; enfatizar a importância do seu reconhecimento precoce; revisar as etiologias da icterícia do recém-nascido (RN) e do lactente; e apresentar as recomendações atuais referentes à abordagem diagnóstica da colestase.

A icterícia é um sinal comumente observado nos primeiros dias de vida da criança. Está presente, na primeira semana de vida, em cerca de 60% a 80% dos RN. Na maioria destes, trata-se de icterícia fisiológica, decorrente do aumento da bilirrubina indireta (BI). Entretanto, em algumas situações, a icterícia pode ser sinal de doenças, como nos casos de colestase neonatal, que cursam com aumento da bilirrubina direta (BD) e traduz a presença de doença hepatocelular ou biliar.

QUALIDADE DE VIDA - Para estes pacientes, de acordo com o Guia, o esclarecimento precoce do diagnóstico etiológico e a instituição do tratamento adequado podem exercer influência decisiva na sobrevida e na qualidade de vida. Sendo assim, podemos considerar a colestase neonatal uma urgência em Gastroenterologia e Hepatologia Pediátricas.

A icterícia consiste na coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas. É decorrente da deposição da bilirrubina nestes tecidos, quando esta se encontra em níveis elevados no plasma (hiperbilirrubinemia). Torna-se clinicamente evidente quando a concentração sérica de bilirrubina total ultrapassa 2,5 a 3mg/dL. Como a icterícia é ocasionada por uma anormalidade no metabolismo da bilirrubina, estabelecer os passos da sua formação e excreção é fundamental para a compreensão do seu diagnóstico diferencial.

No trabalho, o DC de Hepatologia apresenta uma série de informações atualizadas sobre o tema, mas não deixa de ressaltar a importância do papel do pediatra. “Apesar dos avanços nos métodos complementares diagnósticos, a história clínica completa e o exame físico minucioso continuam sendo fundamentais”, alertam os especialistas.

CAMPANHA - Uma pesquisa multicêntrica, que incluiu 513 crianças com atresia biliar, de todas as regiões brasileiras, revelou encaminhamento tardio para os centros de nacionais de referência independentemente da região ou da categoria da cidade, fosse capital ou cidade do interior. Neste contexto, para mudar a realidade brasileira, os hepatologistas pediátricos brasileiros, em um esforço nacional, desenvolveram estratégias colaborativas a fim de melhorar a situação destes pacientes.

Esses profissionais, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Ministério da Saúde, incluíram o sistema colorido de graduação das cores das fezes na Caderneta de Saúde da Criança, distribuída pelo Ministério da Saúde aos pais de cada recém-nascido e lançaram a campanha nacional de “Alerta Amarelo” para a conscientização dos pais e dos pediatras sobre a importância do diagnóstico precoce nos casos de colestase neonatal.

NOVA ERA - Além disso, foi criando um Grupo de Estudo em Hepatologia Pediátrica (GEHPed) do Brasil, que tem como objetivo avaliar, de forma prospectiva, o perfil dos pacientes brasileiros, identificando seus problemas e sugerindo possíveis soluções. Por meio destas ações, busca-se uma nova era na condução da colestase no Brasil.

Assim, a campanha do alerta amarelo orienta que se o recém-nascido ou lactente apresentar: acolia/hipocolia fecal e colúria (em qualquer idade) ou persistir com icterícia com idade igual ou maior que 14 dias, deve ser avaliado do ponto de vista clínico (global e coloração das fezes e urina) e laboratorial (bilirrubinas). Se as fezes foram “suspeitas” ou a criança apresentar aumento de BD, a criança deve ser encaminhada para serviços especializados. Este procedimento simples conseguiu melhorar o prognóstico de pacientes com atresia biliar em vários países.