Quando fiz a pergunta sobre o que pensam de verão e cerveja a pessoas com as quais convivo, de todas recebi respostas semelhantes: “tudo de bom!”; “maravilha!” e outras, todas de mesmo teor. Em seguida, coloquei os números que foram apresentados sobre consumo de álcool por adolescentes e, em todos, surgiu uma expressão de grande preocupação. Com certeza, o que deve decorrer dessa constatação é não uma condenação pseudo moralista de atividades socialmente aceitas, integrativas, como diversões saudáveis em momentos especiais, mas a consciência de que tudo que se faz pode ter boas ou más conseqüências, dependendo de como é feito, da oportunidade, da freqüência e, principalmente, dos limites. Temos, no estado de São Paulo, um exemplo fantástico de como o controle do consumo de álcool é importante, com a dramática redução de crimes ocorrida no município de Diadema, a partir da proibição da venda de bebidas alcoólicas, em bares, no horário noturno. Por outro lado, sabemos que a violência doméstica está associada, em 70% dos casos, ao consumo de álcool.
Vamos a um pouco de história:
Na história da humanidade há registros de consumo de álcool já, aproximadamente, em 6.000 a.C. Inicialmente as bebidas tinham baixo teor alcoólico, pois eram simplesmente fermentadas. A partir da Idade Média, com a introdução na Europa, pelos árabes, do processo de destilação, surgiram novas bebidas, destiladas, com teor alcoólico muito mais alto e que, pelos seus efeitos, passaram a ser considerados remédios para quase todos os males, pois “dissipavam as preocupações mais rapidamente do que o vinho ou a cerveja, além de terem efeito mais eficiente no alívio das dores”. Lembremos que a palavra uísque vem de expressão que significa “água da vida”. A partir da Revolução Industrial registrou-se, pela facilidade de acesso, grande expansão no consumo desse tipo de bebida, aumentando significativamente o número de pessoas com algum tipo de problema decorrente de seu uso.
O fato é que, apesar de ter seu consumo aceito e admitido socialmente, o álcool é uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso central de quem o consome, além de ter potencial para desenvolver dependência.
As pessoas que consomem bebidas alcoólicas, de forma exagerada, ao longo do tempo podem passar a desenvolver dependência do álcool, condição definida como “alcoolismo”. Os fatores que podem levar ao alcoolismo são vários, que atuam isolada ou conjuntamente: biológicos, psicológicos, sócio-culturais.
A freqüência de dependência do álcool é grande, no Brasil chegando a atingir de 5 a 10% da população. A transição do beber moderado (socialmente aceito) ao beber de forma problemática é lenta, em geral leva vários anos. Sinais de alerta são: desenvolvimento de tolerância, com a necessidade de beber cada vez mais para atingir os mesmos efeitos; aumento da importância do ato de beber na vida da pessoa; a percepção de um “grande desejo” de beber, que deve ser atendido prontamente; falta ao trabalho ou descuido com compromissos, decorrentes do fato de ter bebido; o aparecimento de sinais físicos (tremor, ansiedade, distúrbios digestivos), após 6 a 8 horas sem beber. Cerca de 5% dos que tem esse quadro evolui para as formas mais graves, caracterizadas classicamente pelo aparecimento de delírios e tremor incontrolável, que só melhora com a ingestão de maior quantidade de álcool.
Todos nós, na família ou no trabalho, já tivemos contacto com alguém nessa condição. Qual tem sido a nossa conduta com relação aos doentes de alcoolismo? Temos tentado ajudá-los ou simplesmente nos afastamos, empurrando ladeira abaixo quem já nem tem mais condição de se defender? Uma tomada de posição é fundamental, especialmente para nós, pediatras, que devemos ter a prevenção como princípio básico de nossas ações.
Fabio Ancona
Vice-presidente da SBP.
Famílias em Pauta debate saúde mental de crianças e adolescentes
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