Papel do pediatra junto à criança com dificuldade escolar é tema de documento do DC de Desenvolvimento e Comportamento da SBP

Com o objetivo de discorrer acerca das dificuldades escolares encontradas pelas crianças e como os pediatras devem abordá-las, o Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar as diretrizes específica sobre o tema. O documento foi produzido por profissionais de áreas que atuam diretamente com as escolas: psicologia, pedagogia e biblioteconomia.

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O documento tem um total de 32 páginas e contou, em sua construção, com os membros do DC de Desenvolvimento e Comportamento: drs. Liubiana Arantes de Araújo (presidente); Lívio Chaves (secretário); Adriana Auzier Loureiro; Ana Márcia Guimarães, Alves; Ana Maria Costa da Silva Lopes; João Coloriano Rego Barros; Márcio Leyser; e Ricardo Halpern. Além dos colaboradores Renato Mikio Moriya Cássio Frederico Veloso (psicólogo), Daniela Eloi dos Reis (neuropsicóloga), Paulo França Santos (pedagogo); e Marilene Conceição Félix Silva (bibliotecária).

O estudo “O papel do pediatra diante da criança com dificuldade escolar” incorpora elementos do desenvolvimento humano e pressupostos teóricos da psicologia sociocultural, pedagogia e pediatria, recompilando trabalhos de investigação (empírica e teórica).

“No atual contexto da educação, não basta falar apenas das dificuldades de aprendizagem, sem atentar para a urgente necessidade da construção de uma escola inclusiva de todos e com todos. Por isso, cabe ao educador se posicionar frente a histórica construção da exclusão, cunhada em longos anos de equívocos teóricos e metodológicos, que fizeram da educação e da ciência o benefício de uns em detrimento de outros”, enfatiza o documento.

De acordo com os autores, as dificuldades escolares diferem dos transtornos de aprendizagem, decorrentes do neurodesenvolvimento (de origem biológica) que representa a base dos problemas em nível cognitivo. Nessa esfera, há uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, os quais afetam a habilidade cerebral de perceber ou processar informação verbal.

TDAH – O documento traz ainda detalhes sobre o Transtorno de Aprendizagem, abordando a origem de estudos a respeito do tema e a definição adotada hoje em dia. No mais recente Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), produzido pela Associação Americana de Psiquiatria, houve uma mudança em relação à sua edição anterior, o que levou à inclusão do TA e do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no grupo de problemas do neurodesenvolvimento.

“Essa alteração pode promover mais pesquisas sobre o impacto deletério da comorbidade de desatenção no resultado acadêmico e resposta das intervenções terapêuticas em indivíduos com Transtornos de Aprendizagem (TA). Em outras palavras, tal mudança abre caminho para um entendimento de que os déficits do TDAH podem se estender para ‘além do comportamento’, assim como, as dificuldades pedagógicas podem ir ‘além dos livros’”, explicam os autores.

Além disso, o trabalho aponta fatores de risco que podem implicar em dificuldade para a criança. Entre as constatações, está o fato de que a origem dos problemas que levam ao mau desempenho escolar pode estar em diferentes fases do desenvolvimento, podendo ser pré-natais, perinatais, pós-natais, biológicos, comportamentais e sociais.

O texto trata também dos critérios diagnósticos de transtornos mentais (DSM IV/ DSM V); da prevalência dos transtornos específicos da aprendizagem; da prevalência dos TA; da neurofisiologia do ato de aprender; dos problemas de origem pedagógica, sem qualquer envolvimento orgânico.

Além de mencionar e descrever de forma sucinta alguns instrumentos e testes que podem ser utilizados nas avaliações neuropsicológicas, como os instrumentos de triagem para a avaliação do neurodesenvolvimento; a bateria neuropsicológica infantil.; os testes de inteligência e de raciocínio lógico; os testes de percepção visual e coordenação visão motora; os testes de memória; os testes de atenção; as funções executivas, entre outros.

Há também a explicação sobre os instrumentos e inventários utilizados para a investigação da dinâmica da personalidade e dos aspectos emocionais e comportamentais das crianças, como o M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) e CBCL (Inventário de Comportamento para Crianças e Adolescentes), por exemplo.

No documento, são abordados ainda os instrumentos disponíveis para a avaliação das habilidades acadêmicas de crianças, como Teste de Desempenho Escolar (TDE), o PROLEC, o CONFIAS, o Coruja PROMAT, entre outros. Ao final, é discutido sobre a abordagem e o papel do pediatra, este que é peça fundamental na condução dos transtornos de aprendizagem, tanto como identificador inicial e coordenador, quanto como defensor do processo.

“A avaliação individualizada e responsável de cada criança dentro do seu contexto de vida em conjunto com família, escola e equipe interdisciplinar é fundamental para auxiliar a criança no processo de ensino e aprendizagem de forma precoce e efetiva. O pediatra sem dúvida é o profissional mais importante que deve acompanhar de perto toda a equipe multiprofissional que estará em conjunto com ele no tratamento de cada criança”, conclui o documento.