A décima edição do Pedtalks contou com a presença especial do criador da Turma da Mônica, o cartunista Mauricio de Sousa, que recém-completou 62 anos de carreira. Em um bate-papo descontraído, ele falou sobre o processo de construção dos seus mais de 400 personagens e também adiantou projetos futuros. O programa foi apresentado na terça-feira (15) pelo dr. Carlos Linhares, psicólogo, cientista social e filósofo, e teve a participação da presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva.

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Criado em Mogi das Cruzes, São Paulo, Mauricio tomou gosto pelos quadrinhos aos 4 anos, quando encontrou o primeiro gibi caído na rua a caminho da escola. “Levei para casa e pedi para minha mãe ler para mim”, disse. O pai, poeta, radialista e com talento para o desenho, percebeu a curiosidade do filho e passou a presenteá-lo com quadrinhos. Mas foi com a mãe que Mauricio aprendeu a ler nos gibis para depois poder fazer isso sozinho. 

“Em três, quatro meses aprendi a ler e isso abriu o mundo. Quando eu crescer, quero fazer historinhas, pensava. Com isso, fui lendo cada vez mais. Estudei técnicas de narrativa e me preparei para entender como fazer um quadrinho”, relembra.

Aos 18 anos, decidiu ir para São Paulo em busca de trabalho como ilustrador. Procurou o departamento de Ilustrações na Folha da Manhã, mas não lhe deram uma oportunidade. No entanto, foi oferecida uma vaga de revisor na Redação da Folha pelo jornalista Mario Cartaxo (1903-1983), que, segundo afirmou, seria uma forma dele fazer amizade dentro do jornal.

Maurício aceitou, mas ficou no setor somente por alguns meses e logo foi contratado para uma vaga de repórter policial. Para superar a timidez na hora das entrevistas, passou a trabalhar usando roupa de detetive norte-americano, com capa e chapéu. Esse seria seu primeiro personagem. A experiência na redação lhe deu conhecimentos importantes para elaboração dos futuros quadrinhos. “Fiquei quase sete anos na reportagem aprendendo a escrever com linguagem enxuta e que me ajudou bastante quando eu comecei a fazer história em quadrinhos”, diz.

A carreira de cartunista começou em 1959, quando teve sua primeira história em quadrinhos – com Bidu e Franjinha como personagens principais – publicada pela Folha da Tarde. A partir daí, passou a se dedicar exclusivamente à criação de tiras para o jornal.

Atualmente conhecidos por milhões de crianças de todo mundo, os quadrinhos e personagens de Mauricio ganharam adaptação para TV, cinema, jogos e aplicativos.

PERSONAGENS – A partir de 2004, os personagens com deficiência fazem parte das histórias das revistinhas da Turma da Mônica. O objetivo é contribuir para o debate sobre a inclusão e quebra de preconceitos. Desde então, foram criados o Luca (cadeirante); o André (espectro autista), a Tati (síndrome de Down), Humberto (mudo), o Edu (distrofia muscular) e a Dorina (deficiência visual), inspirada na educadora brasileira Dorina Nowill, que travou importante luta pelos deficientes visuais.

“Esses personagens foram criados para desmontar eventuais preconceitos que pudessem entrar de alguma maneira dentro de mim, sem eu perceber”, reflete.

Sobre os novos projetos, Mauricio adiantou que a coleção Dorinha pelo Brasil - Inclusão Sem Barreiras, direcionado para as crianças cegas, será lançado no final de março. A obra em braile apresenta a diversidade cultural de cinco regiões do Brasil: modos de brincar, cantigas, expressões linguisticas, folclore e culinária. “É uma possibilidade de as crianças cegas conhecerem o Brasil”, assinala o cartunista, que acabou de lançar a coleção completa de livros com histórias do Horácio, seu alter ego –, as únicas escritas e desenhadas exclusivamente por ele entre 1963 e 1992.

Além disso, em 2023, será lançada sua cinebiografia em uma parceria da Mauricio de Sousa Produções e Disney. O filme se chamará “Mauricio de Sousa - O Realizador de Sonhos”